domingo, janeiro 14, 2018

Filhas das trevas




Filhas das trevas a.k.a. Escravas do desejo (Daughters of Darkness ou Les Lèvres Rouges, 1971),  filme do diretor belga Harry Kümel (Malpertuis), aborda vampirismo e lesbianismo com apuro estético e elegância quase insuperáveis. O enredo investiga a mítica personagem húngara Condessa Elizabeth de Báthory (Delphine Seyrig), que demora um pouco para entrar em cena.


Um casal em lua-de-mel se hospeda num hotel deserto à beira-mar na cidade de Ostende. Enquanto aproveita a estadia, os dois acompanham pelos jornais as notícias sobre mortes seriais de moças que são encontradas sem uma gota de sangue no corpo. Uma das mortes ocorre em Bruges, e o casal aproveita para visitar a cidade. De volta ao hotel, aumenta o suspense quando chegam mais duas hóspedes misteriosas. O concièrge reconhece uma delas, a Condessa Bathory, que teria se hospedado no hotel há quarenta anos. Com um detalhe: ela não envelheceu nesse período.

A condessa Bathory é interpretada pela grande atriz francesa Delphine Seyrig, com figurinos perfeitos para sua silhueta esguia. Ela transcorre o filme inteiro com um sorriso nos lábios, sussurrando suas falas, a voz meiga, as atitudes suaves, contrastando com o mistério que parece esconder. O marido também esconde algo da esposa, pois pede ao concièrge mentir que não consegue ligar para alguém que seria sua "Mamma". Nesse meio-tempo, as duas sinistras, porém sensuais recém-chegadas se interessam imediatamente pelo casal que já estava hospedado no hotel, e a partir daí o filme desenvolve um jogo de atração e erotismo entre os quatro personagens, pontuado por interesses e necessidades orgânicas mais fortes que o desejo sexual.



A alemã Andrea Rau interpreta Ilona, a acompanhante da condessa. Ela tem o cabelo moreno curto e olhos claros. Experiente em filmes eróticos, a sedutora morena estrela 
algumas das cenas mais sensuais do filme. Ela faz um depoimento nos extras elogiando o belga Harry Kümel, que teria sido muito meticuloso em suas instruções para ela viver a personagem. Por sua vez, o comentarista de filmes Alex Good fala que adora a atuação da atriz neste filme.
Já Danielle Ouimet, a loira que vive a pombinha Valerie, declara que Filhas das trevas foi o melhor dos treze filmes que estrelou, mas afirma ter sido esbofeteada por Kümel e que o diretor belga lhe deixava perdida, pois nunca dava instruções claras. Por incrível que pareça, acho que as duas atrizes podem estar falando a verdade.

Das duas, uma: ou Kümel quis propositalmente deixar a atriz perdida, pois realmente Valerie, a recém-casada, é a mais frágil e mais "vítima" na história, ou o problema de relacionamento que surgiu entre os dois devido a um atraso da loira no set impediu que a comunicação se tornasse mais franca, e a leitura disso por Danielle foi a de que Kümel queria inovar a cada tomada, em vez de dar ordens precisas sobre o que ele queria.

Seja como for, até mesmo a atriz que teve problemas com o diretor reconhece que o filme marcou sua carreira em vários sentidos, e que costuma visitar o túmulo de Delphine Seyrig, de quem se tornou amiga no set.

Deixando à parte essas questões sobre a realização do filme, analisando apenas o produto, assistido em pleno 2018: trata-se de um filme de cadência lenta, com poucas cenas de sangue. Tudo é involucrado em um véu de mistério, e a história é contada mais com base no implícito do que no explícito. Arrisco a dizer que Filhas das trevas se tornou um cult justamente por isso. A parcimônia em termos de locações e de elenco é contrastada nos cuidados técnicos, na fotografia, figurino e música. Foram essas cenas estudadas milimetricamente para abordar com delicadeza vampirismo e lesbianismo que tornaram Filhas das trevas um clássico do horror erótico.

Trailer do filme:

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