terça-feira, dezembro 19, 2017

STANLEY KRAMER: Julgamento em Nuremberg




Este é o terceiro da série de três posts sobre os filmes de Stanley Kramer que venceram Oscar de Melhor Roteiro ( junto com Adivinhe quem vem para jantar e Acorrentados). Neste caso, foi o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, assinado por Abby Mann.  O roteiro tem como base um episódio da série televisiva Playhouse 90, que teve 133 episódios e contava com diretores como John Frakenheimer e Franklin Schaffner.



De quebra, Julgamento em Nuremberg levou também o Oscar de Melhor Ator, para o austríaco Maximilian Schell, que interpreta o advogado dos juízes nazistas. Schell conhecia bem o papel, pois havia representado Hans Rolfe na primeira versão, feita para a tevê. Esse pode ter sido um fator decisivo para a espontaneidade e força com que encarnou o personagem. O Oscar foi mera consequência.



Filmado em P&B em 1961, Julgamento em Nuremberg focaliza os procedimentos no tribunal do pós-guerra que levou ao banco dos réus os magistrados alemães que foram coniventes com as atrocidades do Terceiro Reich, como emitir ordens para esterilizações, limpeza racial e prisões de judeus para serem levados aos campos de concentração. O elenco é magnífico: Burt Lancaster interpreta um dos juízes alemães; Montgomery Clift é uma das testemunhas que relata sua humilhante esterilização; Judy Garland é a mulher que aos 16 anos foi acusada de ter relações íntimas com um senhor não ariano; Marlene Dietrich é a mulher local que faz amizade com o juiz.




Stanley Kramer como sempre demonstra uma coragem imensa em abordar temas complexos e espinhosos, que ferem suscetibilidades de nações e povos. O roteiro procura não ser maniqueísta, não vê apenas um dos lados, permite que o espectador entenda vários pontos de vista. 




Para quem aprecia embates jurídicos, é um filme essencial. Cada estocada do implacável promotor Lawson (Richard Widmark) é respondida com a técnica e o brilhantismo do advogado de defesa. Momentos de extrema tensão precisam a intervenção do Juiz, para suspender a sessão. Não faltam os clássicos dizeres "Overruled" ou "Sustained" por parte do magistrado, quando cada um dos adversários tenta anular ou desclassificar as ações do oponente.





Mas o filme não se limita a esse arguto embate de palavras e leis: aprofunda a densidade de personagens conflituosos, em especial, Dr. Ernst Janning, vivido por Burt Lancaster. Estudioso, autor de muitos livros, ex-ministro da Justiça, Janning é admirado pelo povo alemão, e sua eventual condenação pode criar problemas diplomáticos e geopolíticos. 

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Às vezes, o diretor Stanley Kramer abre mão de seu estilo mais discreto e utiliza closes súbitos. O recurso serve para enfatizar essa mudança que permeia a película do amplo para o detalhe, da visão panorâmica para o drama pessoal. Este é o principal mérito de Julgamento em Nuremberg: a mescla perspicaz de temas, abordados com ousadia. 



Outra curiosidade deste filme é a participação de William Shatner como o Capitão Byers, assessor do Juiz Dan Haywood (Spencer Tracy).


Faltou comparar os roteiros da série de três posts. Sem dúvida, o melhor dos três é o acridoce roteiro de Adivinhe quem vem para jantar, pela dose certa entre humor e drama. Enxuto, é um primor de eficácia. 


A possível crítica ao roteiro de Acorrentados seria que uma espectadora feminista não veria com bons olhos o modo como a fazendeira foi retratada, pronta para se atirar nos braços do primeiro foragido que aparece. Mas nem tudo é perfeito, e no geral as qualidades do roteiro prevalecem sobre os pequenos deslizes. Diga-se de passagem, naquela época o mundo era menos obcecado em ser politicamente correto.


Por fim, o roteiro de Julgamento em Nuremberg é o mais espichado e, por isso mesmo, o que supostamente teria mais cenas "deletáveis", por assim dizer. Don't let me be misunderstood: o filme funciona às mil maravilhas como está, não achei cansativo nem nada, apesar da metragem superior a três horas. Apenas é natural que um roteiro mais comprido tenha mais chances de revelar algumas incongruências e alguns "altos e baixos".


No geral, porém, acredito que os três filmes são dignos e merecedores de seus respectivos Oscars de Melhor Roteiro


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