domingo, fevereiro 26, 2017

A grande muralha

Zhang Yimou, o diretor dos dramas Lanternas vermelhas (1991) e O caminho para casa (1999), em 2002 surpreendeu a todos com o épico Herói, que iniciou sua elogiada "trilogia wuxia", completada com O clã das adagas voadoras (2004) e A maldição da flor dourada (2006). Nessa famosa trilogia, não há continuidade entre uma história e outra. Convencionou-se chamar de trilogia porque são os três filmes em que Zhang Yimou explorou o universo das artes marciais, com cenas de força e plasticidade incomparáveis.

Com A grande muralha, Yimou retoma a paixão por armas e lutas e revela o seu talento para um público mais amplo. Sempre que um cineasta resolve entrar no "modo Hollywood" precisa fazer concessões. A questão é: no processo ele consegue manter as qualidades que o alçaram ao topo da muralha?

A resposta é "não" se sua vontade de espinafrar embota a capacidade de inter-relacionar e perceber nuances, se você jurou de pés juntos jamais relevar quaisquer fragilidades do roteiro, enfim, se você já se esqueceu de como é divertido ir ao cinema para curtir uma pipoca com a família.

A resposta é "sim", se você reconhecer que A grande muralha renova muitos elementos da trilogia, como o uso da percussão e a habilidade no manuseio das armas, com o acréscimo do uso eficaz do 3-D. E quem conhece a obra de Yimou também percebe a sua obsessão por amores platônicos (vide A árvore do amor) na mútua admiração entre a general Lin Mae (Jing Tian) e o mercenário William (preciso mesmo dizer quem é o ator?).

Do ponto de vista sociocultural, A grande muralha tem a qualidade de transpor a barreira entre Ocidente e Oriente. Salas de cinema ocidentais vão abarrotar para assistir ao filme. A tensão e o fascínio entre Oriente e Ocidente são metaforicamente mostrados na bonita relação de William e Lin Mae.

Os dois passam o tempo inteiro identificando as mútuas diferenças e semelhanças.

Essa metáfora quase imperceptível salva o filme de ser raso. O flerte Ocidente x Oriente é mostrado com um prisma otimista e serve de pavio aceso para debates filosóficos.

No fim das contas, perceber diferenças ou semelhanças, enfatizar a crítica ou o elogio: tudo depende do olhar.



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