segunda-feira, dezembro 11, 2017

STANLEY KRAMER: Acorrentados

Este é o segundo de uma série de três posts com os filmes de Stanley Kramer que venceram Oscars de Melhor Roteiro.



Acorrentados (The Defiant Ones, 1958) recebeu na versão dublada pela Herbert Richers o título alternativo de Destinos unidos.


Além de Melhor Roteiro, o filme abiscoitou também o Oscar de Melhor Fotografia em Preto & Branco. Os dois protagonistas, Tony Curtis na pele de Johnny 'Joker' 'Jackson e Sidney Poitier como Noah Cullen, foram indicados para Oscar de Melhor Ator, mas perderam para David Niven.


A indicação de Poitier marcou época por ser a primeira vez que um ator negro competiu por um Oscar. Ele acabaria vencendo mais tarde por No calor da noite, também vencedor de Melhor Filme.


O roteiro original foi um trabalho de quatro mãos assinado por Nedrick Young, que usava o pseudônimo Nathan E. Douglas e estava na lista de roteiristas banidos pela caça às bruxas anticomunista de Hollywood, e Harold Jacob Smith, que deu o acabamento ao texto.



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Acorrentados começa com um caminhão de médio porte transportando presidiários numa rodovia mal sinalizada e sob uma chuva forte. Um dos presos está entoando o blues Long Gone, e um dos carcereiros da cabine manda ele calar a boca. Mas Cullen (Poitier) continua a cantar, só para ser chamado de 'nigger' por outro condenado, Johnny (Curtis). Detalhe: os dois estão unidos por uma forte corrente de 70 cm de comprimento, que conecta o pulso direito de Cullen com o pulso esquerdo de Johnny. A situação se transformaria numa briga não fosse o acidente que ocorre logo depois. Ninguém morre no acidente, mas a dupla acaba fugindo.




Os dois antagonistas nas próximas horas vão ter de atuar em equipe e coordenar esforços para escapar da polícia e dos cães que estão em seu encalço. São muitas as peripécias que a dupla vai enfrentar: a travessia de um rio de caudalosas e perigosas correntezas, o pulo num buraco de lama para se esconder e a difícil escalada posterior, a tentativa de roubar uma vila de operários e a ameaça de linchamento, a chegada a uma fazenda em que a dona da propriedade acaba vendo em Johnny uma tábua de salvação para fugir daquela vidinha.


O outro "núcleo" do filme acompanha o humanista xerife Muller (Theodore Bikel) e um grupo de policiais que buscam recapturar os fugitivos.


Curiosidade: o personagem de Curtis vive falando (seis vezes, para ser mais exato) ao longo do filme que gostaria de ser como um tal de Charlie Potatoes, expressão idiomática que significa uma pessoa rica e influente. Na adaptação para o português brasileiro, isso ficou diluído, pois a expressão, às vezes, simplesmente não é traduzida. Esse comentário não é uma crítica à tradução, apenas uma observação sobre os desafios enfrentados (não tem como colocar nota de rodapé na legenda do filme) e os recursos tradutórios adotados, entre eles, a omissão.

Omissão, porém, não é a praia de Stanley Kramer.
Além de excelente condutor de elencos (atores e atrizes sob sua batuta recebem indicações a Oscar), o diretor Stanley Kramer sabia como poucos escolher roteiros funcionais e significativos. Também não se omitia: em vez disso, "colocava o dedo na ferida". Enfim, não era um sujeito que ficava à margem da discussão de problemas importantes.


A intolerância racial é um de seus temas recorrentes. Voltou a abordar esse tema, em tom mais leve, é claro, em Adivinhe quem vem para jantar (1967).



Aguardem o 3º e último post desta série, sobre Julgamento em Nuremberg, em que Stanley Kramer aborda outro tema espinhoso: o holocausto, merecendo outro Oscar de Melhor Roteiro.




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