quinta-feira, outubro 05, 2017

O porteiro da noite

Resultado de imagem para the night porter


Certos filmes marcam uma adolescência. A primeira vez que vi O porteiro da noite, fiquei fissurado nos olhos verdes, no rosto esquisito e no corpo esguio da atriz principal. Não gostei do filme por conter uma atriz que era “o meu tipo”; a atriz acabou me conquistando por estar em um filme que me chocou e surpreendeu numa intensidade poucas vezes alcançada.
Rever este filme é confirmar minhas primeiras impressões. A veracidade da cena em que o porteiro e a mulher se reconhecem só é possível nos melhores filmes. 
Um famoso maestro e sua esposa vão a  Viena, onde a orquestra irá se apresentar, e se hospedam em um hotel. Lucia fica transtornada. O porteiro do hotel (Dirk Bogarde) é o oficial nazista que a torturara durante a guerra. O reencontro levará ambos a relembrar uma relação com toques de sadismo, masoquismo e otras cositas más, que nem Freud explica. O maestro precisa continuar a turnê e deixa a esposa sozinha no hotel.
O olhar da diretora Liliana Cavani é erótico, sensual e perturbador. A atitude de Lucia (Charlotte Rampling), arriscando a vida segura e feliz ao lado do talentoso marido, é mostrada sem emoções – a não ser as da própria personagem.
Resultado de imagem para the night porter
Cena excitante e lírica é o flashback em que Lucia, o cabelo curto espicaçado, enfiada em calças e suspensórios, ostentando um despudorado topless, entoa e dança uma música em alemão, provocando os abobalhados oficiais nazistas.  
Inevitavelmente, um filme que toca em questões tão polêmicas suscitou reações tempestuosas e radicais na época. Uma parcela da crítica especializada estigmatizou o filme, incluindo o renomado Roger Ebert, que desceu a ripa no filme nesta resenha de 1975. No ano seguinte, a feminista Teresa de Lauretis defendeu a película de Cavani no artigo intitulado: "Night Porter: A Woman's Film?"
Resultado de imagem para the night porter

De minha parte, prefiro acreditar no meu instinto de cinéfilo e nas palavras de Teresa de Lauretis, no artigo supracitado: "Não é a experiência de Lucia (sua vitimização, iniciação e posterior inquebrantável sujeição a seu opressor-Pai-amante) que serve como metáfora para a infâmia perpetrada pelos nazistas para com a humanidade, mas o nazismo e as atrocidades cometidas nos campos de concentração que são a moldura alegórica escolhida por Cavani para investigar a dialética da relação macho-fêmea em nossa sociedade pós-nazista e contemporânea".

Em tempo: não recomendo a ninguém assistir este filme. Pode ser que você odeie e, depois, fique me odiando. Apenas, postei aqui uma pequena parcela das sensações que ele me provocou. Algo no filme me atrai, será que é por que eu entendo, ou tento entender, a paixão dessas duas almas perdidas? O tipo de amor sobre qual Castelo Branco imortalizou num sucinto e eloquente título: Amor de perdição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é bem-vindo!