terça-feira, outubro 31, 2017

Quando a mulher erra


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Bare Indiscretion of an American Wife (1954), uma parceria entre o grande produtor americano Selznick e o diretor italiano Vittorio De Sica, é o "filme dentro do filme" que aparece rapidamente em Gilbert Grape, aprendiz de sonhador.

A história se passa em Roma, em tempo real, numa estação ferroviária.

Visitando a irmã na Itália, longe do esposo e da filha, uma mulher americana (Jennifer Jones) enfrenta uma crise de consciência, desiste de um encontro marcado e vai para a estação. Liga para o sobrinho pedindo para levar sua mala. E tenta embarcar no trem para Milão. Quando aparece o motivo de seu coração transtornado: um jovem italiano, que, apaixonado, fará de tudo para demover a mulher de sua intenção de partir.


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Interpretado por Montgomery Clift (espécie de Jude Law dos anos 50), o amante (pelo menos, em termos platônicos, já que a consumação da paixão fica a critério da interpretação do espectador) encarna muito bem todo o sofrimento de quem se envolve com alguém comprometido.

O filme tem rápidos 63 minutos e é uma inusitada mistura de praticidade americana com a paixão italiana.

Tem cenas belas, carregadas de um transbordante desejo, de uma infinita sensação de 'unfinished question', tudo pela competência do casal principal, que convence numa relação tempestuosa, literalmente entre "tapas e beijo(s)".

Uma cena fortíssima é a aquela em que, desesperado pela iminência do abandono derradeiro, o amante lasca uma bofetada na mulher, na frente do sobrinho dela.


Mas, é claro, a cena mais emblemática do filme é o mais "chorado", mais difícil, e, por isso mesmo, um dos mais explosivos e flamejantes beijos da história do cinema.


Para os cinéfilos, Quando a mulher erra é uma curiosidade; apesar de conhecer o diretor Vittorio De Sica (de Ladrões de Bicicleta), é a primeira vez que vejo um filme do famoso Montgomery Clift.

Não é à toa que, volta e meia, faço posts com filmes da década de 1950: com a ajuda de bons roteiros, o cinema tentava explorar todas as suas potencialidades como arte.

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Este texto foi publicado originalmente em 30 de agosto de 2003, no endereço antigo do blog.

Tentei adaptar o texto para tirar alguns spoilers.

domingo, outubro 29, 2017

Gilbert Grape: aprendiz de sonhador




Cada grande cineasta tem a sua marca, e a marca do sueco Lasse Hallström é retratar com singeleza as relações e angústias humanas.

Ele tem uma predileção inusitada por histórias que retratem personagens relativamente corriqueiros em situações relativamente corriqueiras, mas em cada um de seus filmes transparece esse otimismo, essa convicção de que a humanidade tem jeito.

Esse olhar terno às vezes é precipitadamente rotulado de "água com açúcar", mas aí que está a diferença: até mesmo os aparentemente mais "bobinhos" filmes de Hallström têm uma qualidade superior, e valem a pena serem vistos, analisados e admirados.

Este site traz um bom resumo de sua filmografia, que inclui, entre outros belos filmes, Um lugar para recomeçar. A lista de seus filmes com os títulos no Brasil aparece aqui.

Não foi à toa que Hallström, depois de ganhar destaque com Minha vida de cachorro e migrar para os EUA, atraiu-se pelo conteúdo do livro What's Eating Gilbert Grape, de Peter Hedges, publicado originalmente em 1991. O escritor também fez o roteiro para o filme.

No795 My Whats Eating Gilbert Grape Minimal Movie Poster | Filmes ...

O que está consumindo Gilbert Grape?

Esse "aprendiz de sonhador" de fala mansinha está cansado de segurar as pontas de todos...

Está prestes a estourar.


A história é um prato cheio para investigar as relações familiares e a lassidão de um jovem que mora e trabalha na pequena mercearia da pequena Endora, cidadezinha do Iowa. Interpretado por Johnny Depp, Gilbert Grape, com suas madeixas ruivas, é a pessoa que dá um certo equilíbrio à esquisita família, que vive numa casa afastada, e tenta se recuperar do suicídio do pai, anos atrás.

What's Eating Gilbert Grape (1993) | I Draw on My Wall


O mais comovente no filme é o carinho com que Gilbert cuida do irmão Arnie, que tem problemas de desenvolvimento.

A estupenda atuação de Leonardo DiCaprio, na época com apenas 18 anos, mereceu uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante.

Johnny Depp também cria um Gilbert bastante convincente. Neste artigo ele comenta sobre o momento em que estava passando e sua parceria com DiCaprio.



O elenco se completa com a oscarizada Mary Steenburgen, que encarna a fogosa dona de casa que seduz Gilbert quando ele vai fazer as entregas; John C. Reilly e Crispin Glover, que vivem os amigos de Gilbert; Mary Kate Schellhardt e Laura Harrington, suas duas irmãs; e, last but not least, Juliette Lewis, como a forasteira que fica morando um tempo nas redondezas, até que o veículo da avó seja consertado.

A propósito, a atriz Darlene Cates, que vive a mãe dos Grape, essa "família disfuncional", protagoniza uma das cenas mais surpreendentes do filme, ou seja, a que ela resolve sair de casa após 7 anos de reclusão para resgatar Arnie da cadeia, preso por seu comportamento de subir na caixa d'água da cidade.

Em cada cena, cabe ao espectador decidir se vai se enternecer ou cair na risada, se vai se emocionar ou achar graça.

Uma das raras cenas em que a família Grape está toda reunida sem brigar é diante da tevê, assistindo a um filme clássico de 1954, em preto e branco. Ninguém menos que Montgomery Clift arranca suspiros das mulheres da casa, na película intitulada Bare Indiscretion of an American Wife (Quando a mulher erra).




Um drama com leve tom de comédia, ou uma comédia dramática?

Um dos filmes mais emblemáticos sobre o sentimento fraterno, que os Hollies imortalizaram na canção He Ain't Heavy, He's My Brother

O fato é que, em Gilbert Grape, aprendiz de sonhador, o diretor Lasse Hallström aborda vários temas importantes (preconceito, obesidade, problemas de desenvolvimento, adultério, falta de perspectivas) sem aparentemente se aprofundar neles.





Talvez porque, para entender a obra de Lasse, é preciso ir além das aparências.



A propósito, o sueco está em minha lista dos TOP TEN DIRETORES VIVOS.

sexta-feira, outubro 27, 2017

As aventuras do Capitão Cueca


O escritor Dav Pilkey é um iconoclasta. Aparentemente, nenhum professor ou professora em sã consciência indicaria um livro dele para a turma ler. Tudo em seus livros é irreverente, desde a postura dos personagens, os trocadilhos, a verve, as piadas escatológicas, o não politicamente correto. 

Mas, como seria de se esperar, a leitura divertida, os títulos compridos e engraçados e a mescla de livro com história em quadrinhos atraíram uma legião de fãs no mundo inteiro, e no Brasil não foi diferente.

A série Capitão Cueca foi editada na íntegra pela Cosac & Naify, e, após o encerramento das atividades da Editora, agora está sendo aos poucos reeditada pela Companhia das Letrinhas, junto com a nova série, O Homem-Cão

O filme apresenta um resumo do que os livros trazem e se mantém fiel ao espírito da série. 
Todos os livros têm uma parte chamada "Vire-o-game", na qual o leitor precisa folhear rapidamente para as imagens adquirirem movimento, e, de modo curioso, essa brincadeira também foi inserida no filme.

Claro que existem algumas "liberdades criativas" do roteiro, talvez para envolver mais o público dito adulto? Pelo que meu filho me disse, o namorico entre o diretor e a funcionária não aparece nos livros.


Seja como for, atenção: este não é apenas um filme engraçadinho para levar as crianças.

Primeiro, informe-se sobre quem é Dav Pilkey, e se você se atrair pela proposta dele em termos literários/artísticos, talvez valha a pena levar o seu filho e conferir o filme.

Caso contrário, pode ser que você saia do cinema chocado, puxando o filho pela mão, praguejando consigo mesmo sobre como é possível um filme desses ser classificado como "infantil".


terça-feira, outubro 24, 2017

OSINCA SURPREENDE COM CONCERTO APOTEÓTICO




A Orquestra Sinfônica de Carazinho, sob a batuta do maestro Fernando Cordella, apresentou no dia 21 de outubro de 2017, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Carazinho, talvez o concerto artisticamente mais ousado de sua história.



 O público que lotou a igreja teve a honra de assistir, pela primeira vez, à interpretação do Bolero de Ravel pela orquestra, composta por músicos locais e convidados.

A cada trecho, a cada novo compasso, mais instrumentos vão se somando aos outros, até o ápice final.


Como de praxe, Cordella tomou a palavra e conversou com a plateia. Brincou com o lapso ocorrido no programa, no qual constava "Bolero" de Beethoven. Esse pequeno contratempo de revisão gerou um bem-humorado improviso da orquestra, que "sampleou" o Bolero de Ravel com melodias de Beethoven.



Conforme explicou o maestro, o Bolero de Ravel se caracteriza pelo seu marcante e exemplar "crescendo". 

E, cresce, também, a cultura musical dos espectadores com a sequência do programa.

Incluiu nada menos que Pur ti miro, de Claudio Monteverdi, em dueto da soprano Marilia Vargas e do contratenor Paulo Mestre.

Em seguida, composições de Händel ecoaram na perfeita acústica da igreja.

Nessa parte do concerto, para os apreciadores da música barroca,

Fernando Cordella tocou cravo para acompanhar.

As peças de Handel incluíram algumas das chamadas "árias furiosas":

Svegliatevi nel core, tenor Flávio Leite.



Piangeró la sorte mia, soprano Marilia Vargas.

Eternal Source of Light Divine, contratenor Paulo Mestre.

Why do the nations so furiously rage together (pergunta bem atual, por sinal), baixo Mauro Pontes. 

Marilia Vargas explicou o contexto de sua ária, que envolvia o destino de Cleópatra na ópera Giulio Cesare.




Cada solista fez seu show à parte, encantando os ouvidos e os corações da plateia.




A apoteose da noite foi a Fantasia Coral de Beethoven. Ao som do piano de André Loss, e às vozes do Coro Juvenil da Academia de Música de Osinca, somaram-se as potentes vozes dos solistas já citados, com o reforço de Andiara Mumbach (soprano) e Luiz Carlos Wiedthäuper (tenor).




Como bis improvisado, a orquestra repetiu a parte final da Fantasia Coral, em que os solistas se levantam, e, junto com o coral, e os bem afinados violinos, violas, violoncelos, contrabaixo, flautas transversas, oboés, clarinetes, clarone, fagote, trompetes, trompa, trombones, tímpano, percussão e piano, formam uma densa e poderosa massa sonora para involucrar a bela melodia beethoviana e encerrar o concerto de modo apoteótico.



O vídeo abaixo é uma pequena amostra do concerto, e inclui o finzinho do Bolero de Ravel, um trecho de Händel e a parte final da Fantasia Coral de Beethoven.


Texto, fotos e vídeo de Henrique Guerra.

sábado, outubro 21, 2017

Blade Runner 2049


A cena inicial de Blade Runner 2049, do diretor Denis Villeneuve, remete à cena inicial de Blade Runner (1982), do diretor Ridley Scott, que está na minha lista de Top Ten diretores em atividade. No cult de 1982, a tela mostra em close um olho aberto, no qual se reflete o caótico cenário futurístico em que androides precisam ser caçados. Na abertura da continuação, que tem Scott como produtor, e Ryan Gosling como protagonista, o diretor canadense Denis Villeneuve amarra os dois filmes separados por três décadas e meia. 




Outro ponto de ligação entre os dois filmes é o roteirista Hampton Fancher, coautor do roteiro do primeiro e também da continuação.

Junto com Harrison Ford, o roteirista é uma espécie de elo perdido com o clássico cult de 1982. Ele colaborou com Ridley Scott em 1982 e agora com Denis Villeneuve em 2017. Se existe uma forte coesão atmosférica nas duas obras a sua participação não pode ser subestimada.






Apesar das críticas positivas e da avidez dos fãs de Blade Runner, o filme não está indo bem nas bilheterias como se imaginava.

Seja como for, Denis Villeneuve (o diretor de Sicário, terra de ninguém e A chegada) fez de Blade Runner 2049 um filme em que a arte está quase sempre em primeiro plano. (Diga-se de passagem, algo que o Darren Aronofsky, de um modo bastante arriscado, também tentou fazer em mãe!.) 

Os produtores (entre eles, Ridley Scott, o diretor de Um bom ano, Alien e Alien: Covenant, entre outros) não economizaram no orçamento e deram liberdade criativa a um cineasta autoral, Denis Villeneuve. Ao que consta, quem assiste ao filme está vendo a "Director's Cut", diferentemente do primeiro, que Scott relançou 25 anos depois, remasterizado e abrindo margens para outras interpretações.


O relativo fracasso comercial de Blade Runner  2049 levanta questionamentos sobre sua metragem extensa e a falta de apelo às novas gerações, que não assistiram, nem querem assistir, ao primeiro filme.



Blade Runner 2049 - Cultura Projetada


A trilha de Vangelis, que pontua todo o primeiro filme, aparece sampleada em alguns pontos-chave da continuação. Principalmente, na cena mais bela. Não vou entrar em detalhes para que esse comentário não se torne um spoiler.

Alguém poderia considerar essa decisão um tanto manipuladora por parte dos realizadores, ou seja, querer direcionar a emoção do público, utilizando melodias que evocam uma cena, e, por conseguinte, as emoções suscitadas ao ver aquela cena.

Mas, afinal de contas, por que a gente vai ao cinema, se não é para se emocionar?

Para sentir o sangue pulsando nas veias?
As lágrimas enchendo os olhos?




Living in another world

Um dos videoclipes clássicos dos anos 80.
Uma das canções mais marcantes da década.

domingo, outubro 15, 2017

mãe!


Às vezes, é bom ir ao cinema sabendo pouco sobre o filme que vamos ver.

Foi assim que entrei hoje na sessão de mãe!, o mais recente trabalho do diretor Darren Aronofsky.

Basicamente, era essa a informação que eu dispunha. 

Isso que eu sabia de antemão.

Não que isso não seja uma informação valiosa. 

Afinal de contas, eu já estava de certa forma prevenido em relação ao que podia esperar.

Trata-se de um dos últimos rebeldes da indústria, um sujeito que gosta de brincar com fogo, que tem uma predileção bastante inquietante por deixar a plateia "fora da zona de conforto".

Posto isso, tentando evitar os famigerados spoilers, vou tecer algumas argumentações sobre a obra.

Em primeiro lugar, já vou declarar: não há nada de "cool" em mãe!.

Trocando em miúdos, não há uma fala que será repetida por uma legião de cultuadores. 

Não há um momento espirituoso a ser eternamente lembrado. 

Não há uma cena especialmente inesquecível.

Decididamente, à parte o fato de David Lynch também ser considerado um cineasta de difícil, digamos, deglutição, mãe! não está fadado a se tornar um Coração Selvagem da vida.

Se mãe! não tem potencial para se tornar cult, qual é, então, o público-alvo de mãe!?

Absolutamente não é o grande público. 

Se fizessem uma enquete do tipo gostei/não gostei hoje após a sessão, 99% das pessoas cravariam um "não gostei". 

Uma pessoa atrás de mim, quando o filme acabou, e apareceu na tela Written and Directed by Darren Aronofsky, comentou: "Deviam (sic) prender este homem".

Outros gatos pingados abandonaram a sessão antes do final, talvez incomodados com o rótulo de "Suspense" com que o filme está sendo vendido. 

Então, a constatação deveras esquisita: 

mãe! é um filme sem público-alvo!

Por que alguém realiza um filme sem público-alvo?




O público-alvo, por acaso, seriam os supostos fãs do diretor?

Será que ele pensa que tem tantos fãs assim?

Ou será que mãe! é o protótipo de um novo tipo de filme, o antifilme, que se concretiza sem público?

Um antifilme seria apenas a demonstração de poder de uma pessoa. 

É uma espécie de "quero fazer, posso fazer, vou fazer". 

Não quero agradar a ninguém, não quero ser compreendido.

Um ator oscarizado (Javier Bardem). 

Uma atriz oscarizada (Jennifer Lawrence).

Um casal de coadjuvantes de primeira linha (Ed Harris e Michelle Pfeiffer).

Todos se esforçam ao máximo para transmitir verossimilhança ao roteiro intrigante, mas também um tanto exasperante, com pouco ou nenhum alívio cômico. Um roteiro que uma hora parece que vai enveredar por algo meio à Edgar Allan Poe, sem se preocupar depois em amarrar o fio solto?

E o que dizer da pia que não está chumbada? Será que nesse detalhe está a chave de tudo?

Mas deixa para lá, eu havia prometido que tentaria evitar spoilers exagerados. 

Então, acho que o post precisa ser encerrado aqui, prematuramente.

Claro, eu poderia continuar falando sobre este filme durante alguns parágrafos, ou durante horas, com alguém que conheça a trajetória de Aronofsky.

Mas não é minha intenção tecer uma tese, defender um ponto de vista com um texto coerente e demonstrando muito domínio sobre a arte do cinema e a arte de escrever resenhas.

Seria mais algo como um despretensioso intercâmbio de impressões, do tipo:

 "Uma hora eu tive a sensação de que tudo aquilo era uma encenação apenas, uma espécie de plano maquiavélico e mirabolante do marido". 

"É um filme inquietante, me tirou da zona de conforto, mas em nenhum momento me passou verossimilhança".

Ou talvez algo mais intelectual, para impressionar o(a) interlocutor(a), como 

"É um poderoso estudo sobre o egoísmo e a invasão de privacidade do mundo atual". 

Ou coisa do gênero. 

Ao que o(a) interlocutor(a) perspicazmente poderia retrucar: 

"O roteiro é um tanto desconexo, e em certos momentos beira a fronteira entre o pesadelo e um pastiche de uma série de filmes: A casa monstro, O bebê de Rosemary de Polanski e O anjo exterminador de Buñuel."

Enfim.

Será que, desta vez (ou novamente), 

Aronofsky teria exagerado um pouco? 

Não sei afirmar. 

Sei que, por enquanto, não tenho vontade de 

rever mãe!.

Por enquanto.



EXTENDED VERSION


Após publicar este post, continuei minhas pesquisas sobre o filme.

Não recomendo que entrem nestes links se ainda pretendem assistir a mother!

Seria algo como um "engov" para quem está tentando digerir aquelas cenas.


Nesta entrevista, e também nesta, o diretor cita algumas curiosidades sobre a gravação, o talento de Jennifer Lawrence e algumas das alegorias do filme.


Já este artigo demonstra que o público em geral não considerou que o filme preencheu as expectativas que foram vendidas pelo marketing.

A Paramount, que patrocinou o projeto, explica que resolveu bancar o projeto porque o cinema precisa de originalidade, de obras que desafiem e provoquem o público.

Por fim, li algumas críticas bastante negativas e outras bastante positivas, todas bem fundamentadas, e, por incrível que pareça,
de certa forma, consigo entender a argumentação, e concordar parcialmente com as duas polarizações. 

Não se trata de ficar em cima de muro, apenas no caso de mother!, não estou conseguindo me colocar em nenhum desses polos.

sábado, outubro 14, 2017

Paul McCartney One on One Tour: Live in Porto Alegre, Friday the 13th, October 2017

A huge crowd of virtually 50,000 Brazilian people enjoyed the most remarkable show on Earth.



 No other musician has a richer repertoire than Paul McCartney, and no other musician is such a showman.




 His band plays easily and they have a lot of fun doing their jobs. 



As for the technical details of the show, that is, sound, lights, fireworks, and, of course, the live transmission on the two enormous, high quality vertical screens, one of each side of the stage, well, it must be said that they are taken care by a technical crew whose members are no less than experts on their own métiers.



Every song provokes an incredible amount of emotions, all of them mixed and superposed.
Most of all, it is the happiness to be there, the epiphany for participating of such a wonderful moment. 




An impulse to dance (1985, Queenie Eye).

A desire to sing along (Love me Do, Let it Be, Hey Jude, Yesterday). 

A sense of homecoming (A Hard Day's Night, Can Buy Me Love, And I Love Her, Live and Let Die). 

Or just a feeling of wonder (Something, We Can Work it Out, Blackbird, Here Today).



Dedications: Paul dedicated My Valentine to his wife, Nancy, who was at Beira-Rio Stadium.


















Something was dedicated to his brother George 
Harrison.


Here, Today, to John Lennon.



Love me Do, to George Martin.

Other Wings highlights: 

Jet, Let me Roll it, Band on the Run




Very first songs:

Maybe I'm Amazed = the very first great success of his solo career.

In Spite of All the Danger= the very first recording of The Quarrymen, credited to McCartney and Harrison.




Medleys:

A Day in the Life + Give Peace a Chance

Golden Slumbers + Carry That Weight + The End



And two great surprises:

Helter Skelter

Sgt. Pepper Lonely Heart Club Band








domingo, outubro 08, 2017

Os bravos morrem de pé

"Milhões de pessoas vivem em liberdade graças a eles."

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Na voz imortal de Gregory Peck (vide texto bônus ao final deste post), a frase que arremata Pork Chop Hill (1959, Os bravos morrem de pé), poderia ser traduzida assim: o heroísmo e a bravura das forças da ONU (em sua maioria, soldados dos EUA) que sobreviveram ou perderam a vida mantendo a posição na colina da Costeleta de Porco, 300 metros de altura e quilômetros de trincheiras, permitiu um armistício, senão ideal, ao menos o melhor possível na época, mantendo milhões de coreanos respirando ares mais livres.

O historiador J. M. Roberts dedica 3 parágrafos de sua obra de 952 páginas History of the World ao conflito que se convencionou chamar de Guerra da Coreia. As forças da ONU empurravam os coreanos para o norte e pareciam que sairiam vitoriosas. Foi quando a China interveio, apoiando os comunistas e complicando a situação. Os EUA agora temiam que a ação localizada se tornasse uma guerra de escopo global e nuclear, pois a China era apoiada pela URSS. 

"O armistício foi assinado em julho de 1953."

As ações militares representadas no filme de Lewis Milestone se passam em abril daquele ano, enquanto as negociações de paz estavam em compasso lento.

A disputa por espaço entre chineses e estadunidenses se concentrou na colina apelidada de Pork Chop Hill, dominada pela Easy Company, dos EUA. Os chineses recuperam a colina, e o tenente  Joe Clemons  (Gregory Peck), comandante da King Company, recebe a missão de retomá-la, com o auxílio da Love Company.

A ação noturna é belamente filmada em P&B, com os precisos e discretos movimentos de câmera de um especialista em guerra. Lewis Milestone recebeu o primeiro Oscar de Melhor Diretor por uma comédia, Dois cavaleiros árabes (1927). Mas a partir de seu segundo Oscar (Sem novidades no front, 1930), que retratava a 1ª Guerra Mundial, ficou claro que a guerra se tornaria um de seus principais temas. Nesse gênero, Milestone realizou Até o último homem, Um passeio ao sol e Mais forte que a vida, entre outros.             



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Em 1959, sua colaboração com Gregory Peck levou às telas a história real contada pelo general Samuel Marshall, que publicou o livro que inspirou o filme em 1956: Pork Chop Hill: The American Fighting Man in Action, Korea, Spring, 1953.

Entre um combate e outro, os chineses utilizavam-se do recurso de minar a confiança do inimigo, por meio de mensagens proferidas em inglês, em alto e bom som, por um sistema de alto-falantes instalado na colina. 

Grande sacada do roteirista James Webb (que em 1963 ganharia o Oscar de Melhor Roteiro por A conquista do Oeste) foi inserir, pouco antes do ataque final e maciço das tropas chinesas, uma cena em que o chinês ao microfone (Viraj Amonsin) sai do protocolo e começa a falar palavras que soam muito verdadeiras aos ouvidos dos soldados inimigos.

A cena se contrapõe perfeitamente com a sequência em que o líder chinês, nas negociações do armistício, ergue o olhar e retira o fone de ouvido, mostrando desinteresse em ouvir as alegações da outra parte.

Essa cena singela, mostrando a expressão dos soldados ao ouvir aquelas palavras sinceras, além de valorizar a qualidade do filme, representa uma esperança no mundo de hoje, a esperança de que a comunicação sincera prevaleça.


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Já se tornou praxe filmes de guerra recrutarem uma geração nova de atores que depois brilham nas telas nas décadas seguintes. Os bravos morrem de pé foi o filme de estreia de Martin Landau e alavancou a carreira de outros atores no começo de carreira, como Harry Dean Stanton e Woody Strode (grande atuação como Franklin, o soldado covarde, que depois é chamado aos brios pelo tenente).

Pela veracidade que transparece em seus fotogramas, Os bravos morrem de pé acaba sendo um libelo contra a estupidez das guerras, da estirpe de Gallipoli.

No fim das contas, as infantarias da China e dos EUA se dilaceravam na infernal colina, sem valor estratégico algum, enquanto a 100 km dali os comandantes de ambos os lados calma e impassivelmente negociavam o armistício. 
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Face às farpas publicamente trocadas em pleno 2017 pelos atuais líderes de duas das nações envolvidas naquele conflito, assistir a Os bravos morrem de pé acaba se tornando ainda mais relevante, não apenas do ponto de vista cinéfilo (sem dúvida, é um filme valioso e bem realizado), mas também para as pessoas que sentem a necessidade de entender um pouco melhor como as coisas chegaram neste ponto e o que a História pode nos ensinar sobre a insensatez das guerras.


Bônus:

Texto publicado em 2003, no endereço antigo deste blog, um dia após o falecimento de Gregory Peck.

PODEROSA, NUA E IMORTAL

Em dezenas de filmes, foi a estrela principal. De envergadura imensa, amoldava-se, encaixava-se, incorporava-se com naturalidade a comédias e dramas, aventuras e guerras, suspenses e policiais. Cinéfilos a revisitam e sentem sua emoção, sua vibração, seu frêmito vital, sua energia pulsante; captam sua firmeza, segurança, paz e, ao mesmo tempo, sua debilidade, inconstância e dubiedade.
Ela supera a tecnologia. Toma conta do ambiente com a mesma eficiência e definição, tanto em 'home theathers' digitais, telas planas, DVD e dolby surround, como em velhas TV 20 polegadas acopladas a vi­deocassetes surrados. Sua aristocracia, classe e distância brilham na qualidade fria e estilosa dos primeiros, porém, sua beleza, desenvoltura e paixão melhor combinam com o calor e a simplicidade destes últimos.
Cinemas lotados através do globo emudeciam a cada manifestação sua, espectadores e espectadoras dominados pela sua presença encorpada, macia e ponderada; pausada, enigmática e clara; lí­mpida, aconchegante e rara; poderosa, nua e imortal. A voz de Gregory Peck permanecerá viva, ecoando nos ouvidos e corações dos cinéfilos.

sábado, outubro 07, 2017

Deu a louca no mundo



It's a Mad Mad Mad Mad World (1963) comprova o pendor do diretor Stanley Kramer para escolher roteiros eficientes. Nada menos que cinco de seus filmes concorreram a Oscar de Melhor Roteiro, com três deles abiscoitando a cobiçada estatueta. (Mais detalhe no final deste post.)


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O roteiro de Deu a louca no mundo, assinado por William e Tania Rose, parte de uma premissa singela que origina uma das corridas mais malucas já vistas no cinema. Os tripulantes de quatro veículos param na rodovia após presenciar um carro perder o controle e capotar ribanceira abaixo. Moribundo, o imprudente motorista informa o grupo sobre 350 mil dólares escondidos num parque a horas de viagem dali. A pista: o tesouro estaria enterrado embaixo de um grande dáblio. 


Claro que este roteiro específico não concorreu ao Oscar. É uma espécie de sequência interminável de videocassetadas, uma atrás da outra, peripécias atrás de peripécias, essencialmente um road movie, uma espécie de volta às gags do cinema mudo, com muitas perseguições, barbeiragens, desastres, brigas, capotagens, situações inusitadas, outras nem tanto, em ritmo frenético e de tirar o fôlego.

Claro que há espaço também para o humor mais refinado, como no diálogo entre o americano e o britânico, cada qual procurando desmerecer a nação do outro.

O filme acabou entrando para a história das comédias por ter reunido um elenco fenomenal de talentosos humoristas. Para se ter uma ideia, Jerry Lewis aparece em uma cena de 10 segundos, é o cara que dirige o carro que atropela o chapéu do capitão Culpeper (Spencer Tracy).

Noutro rápido 'cameo', ninguém menos que os 3 Patetas aparecem na pele de três bombeiros aguardando o pouso de um avião desgovernado.
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O elenco, de acordo com a Variety: "Uma gama de cômicos de alta categoria foi recrutada pelo diretor Stanley Kramer, tornando este um dos elencos mais memoráveis e não ortodoxos já reunido no cinema. A competição cômica é tão aguçada que é impossível destacar qualquer um dos participantes. Todos têm uma atuação extraordinária."

A sequência final, em que uma escada magirus também é utilizada de modo bastante "não ortodoxo", exigiu também dos dublês e da parte técnica, numa espécie de número de circo, com direito até a(o dublê de) Spencer Tracy descendo numa tirolesa e se esborrachando numa pet shop.


Voltando à vaca fria, promessa é dívida.

Eis os cinco filmes de Stanley Kramer que concorreram ao Oscar de Melhor Roteiro (os 3 que ganharam são precedidos por um asterisco):

Melhor Roteiro Original:
*Acorrentados (The Defiant Ones, 1959, filme que consta na obra 1001 Filmes para ver antes de morrer)
*Adivinhe quem vem para jantar? (Guess Who's Coming to Dinner, 1968, escrito por William Rose, corroteirista de Deu a louca no mundo).


Melhor Roteiro Adaptado:
O vento será tua herança (Inherit the Wind, 1960)
*Julgamento em Nuremberg (Judgment at Nuremberg, 1962)
A nau dos insensatos (Ship of Fools, 1966)

THE BEATLES: 100 GREATEST SONGS

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Com introdução assinada por Elvis Costello, a Special Collectors Edition da Rolling Stone, lançada em 2013, traz um abrangente panorama sobre os bastidores envolvendo fatores como criação/gravação/contexto/inspiração para as 100 canções mais importantes dos Beatles, entre as 219 que eles gravaram.

Você sabia que...

YESTERDAY teve sua melodia supostamente composta durante um sonho de McCartney, e ficou um tempo sem letra definida, e Paul brincava cantando o primeiro verso assim: Scrambled eggs/ Oh, my baby, how I love your legs?

SOMETHING teve sua demo gravada por George Harrison no dia em que ele completou 26 anos e se tornaria a segunda música dos Beatles mais gravada por outros artistas, atrás apenas de Yesterday?

HEY JUDE, composta por McCartney para consolar Julian, o filho de John, que sofria com a separação dos pais, foi considerada por Lennon como uma das obras-primas de McCartney e por sugestão dele foi mantido o verso "The movement you need is on your shoulder", que Paul queria eliminar? Que um músico da orquestra, mesmo com a promessa de receber o dobro do cachê, retirou-se das gravações ao recusar-se "bater palmas" e entoar o coro daquela "bloody song", declarando que seu crachá do sindicato dizia que ele era um violinista? E que na hora de gravar a master take, ninguém percebeu que Ringo Starr estava no banheiro, mas como a bateria demora para começar, ele teve tempo de sair correndo e empunhar as baquetas na hora H?

A HARD DAY'S NIGHT foi escrita por Lennon em uma noite e as letras foram rabiscadas no verso do cartão de aniversário de seu filho Julian, que recém completara um ano?

ELEANOR RIGBY foi gravada com microfones individuais instalados nos instrumentos do quarteto de cordas, para capturar o som dos arcos golpeando as cordas com uma limpidez inédita em qualquer gravação prévia, seja de música clássica ou de rock'n'roll?

GOLDEN SLUMBERS/CARRY THAT WEIGHT/THE END fazem parte do Abbey Road Medley, que contém o único solo de bateria de Starr em toda a trajetória dos Beatles?

HERE, THERE AND EVERYWHERE foi influenciada pelo LP Pet Sounds do Beach Boys e Paul McCartney cantou em voz de falsetto, pensando em cantar como Marianne Faithfull?

CAN'T BUY ME LOVE tem versos que valorizam o romance em detrimento das coisas materiais, mas uma parcela de fãs surpreendentemente interpretou que a música era, na verdade, sobre uma prostituta?

WE CAN WORK IT OUT demorou 11 horas para ser gravada, o maior tempo de estúdio dedicado a uma faixa dos Beatles até aquela data (outubro de 1965)?

BLACKBIRD, segundo Paul, é uma metáfora para uma mulher negra e sobre o movimento dos direitos civis?

I'VE GOT A FEELING, do álbum Let it Be, de 1970, o último grande momento colaborativo da dupla Lennon/McCartney, fala de novos relacionamentos com uma ponta de remorso pela separação iminente da banda?

BACK IN THE USSR marcou uma briga de Paul com Ringo, que abandonou a banda por duas semanas, obrigando Paul a tocar a bateria durante as gravações?

LADY MADONNA é um tributo às matriarcas da classe operária, expressado por meio de imagens católico-irlandesas?

LOVE ME DO, por sugestões de George Martin, teve um solo de harmônica por Lennon e foi gravado com Ringo Starr "rebaixado" ao tamborim, tendo de entregar a bateria a um baterista de estúdio, fato pelo qual Starr, segundo George Martin comentou em meio a risos, "nunca me perdoou"?

AND I LOVE HER assumiu sua forma definitiva quando Starr decidiu tocar bongôs em vez de bateria?

LET IT BE não teve George Martin como produtor, dispensado por Lennon com a frase: "I don't want any of your production shit"?

A DAY IN THE LIFE, hoje considerada o ápice da carreira da banda, foi escrita por basicamente por Lennon (e o manuscrito, a propósito, foi arrematado por 1,2 milhão de dólares num leilão em 2010), à exceção do breve fragmento que começa com Woke up, fell out of bed (a parte mais "alegre" da música)?

THE FOOL ON THE HILL é uma das canções preferidas de Paul?

BEING FOR THE BENEFIT OF MR. KITE! é uma das canções preferidas de John?

Que todas as canções dos Beatles acima,
mencionadas em THE BEATLES: 100 GREATEST SONGS,
além de Birthday e Ob-la-di, Ob-la-da, 
estão no setlist da One on One Tour 2017?