sábado, maio 13, 2017

PRIMEIRO CD DA OSINCA


O primeiro CD da OSINCA é um belo cartão de visitas de quem logo diz a que veio. Da seleção à execução, dos arranjos aos vocais, as dez faixas do discretamente denominado “Nº 1” popularizam o clássico e elevam o pop a patamares etéreos.

Gravado com esmero na acústica perfeita da nave da Igreja Nosso Senhor Bom Jesus, em Carazinho, o CD traz em cada celestial acorde as marcas da gênese da OSINCA: acreditar, perseverar, realizar, transformar sonhos em realidade.

Coloque o fone de ouvidos, feche os olhos.

Impossível não se arrepiar ao ouvir este CD.

A técnica refinada dos músicos é percebida, mas também sua paixão.

O mais lindo de uma orquestra, afinal de contas, não é a individualidade que aflora, mas a harmonia do conjunto, e a OSINCA nesse quesito é imbatível. Os componentes se conhecem muito, ensaiam à exaustão, e isso transparece no resultado.
Nada melhor que a força de um allegro de Mozart para abrir um CD cuja principal característica é a energia, a mescla de ternura e ritmo, alegria e introspecção.

Eine Kleine Nachtmusik de Mozart condensa tudo isso e abre os trabalhos de modo impactante.

O contraste é estabelecido com a melodia calma e as palavras sentidas de Lascia ch’io pianga, da ópera Rinaldo de Händel, na voz da soprano Cintia de los Santos. Como disse Edgar Allan Poe em seu ensaio O princípio poético:  “Certa tonalidade de tristeza liga-se inseparavelmente a todas as mais elevadas manifestações da verdadeira Beleza”.

Lascia ch'io pianga mia cruda sorte, e che sospiri la libertà. Il duolo infranga queste ritorte de' miei martiri sol per pietà. Ou em tradução livre de quem pouco entende italiano: Deixe que eu chore/Minha má sorte/E que eu suspire/Por liberdade!/Que a dor estoure/Grilhões e corte/O meu martírio.../Por piedade! Aqui, a orquestra humildemente se põe a serviço das sublimes cordas vocais da soprano, num dos pontos altos do CD.

A terceira faixa é uma curiosidade, mas também uma afirmação: somos de Carazinho, somos brasileiros. Mas temos sotaque! Somos também gaúchos, da ponta mais austral desta república, falamos “tchê!” e ouvimos música nativista, como este tradicional chamamé argentino. Não só ouvimos, como adaptamos para um arranjo clássico. Sob esse prisma, a adaptação de Km 11, por mais rápida e despretensiosa que seja, é também uma das mais significativas do CD.


Quem brilha na faixa 4, Con te Partiró, de Francesco Sartori, é outra voz, a do tenor Luiz Wiedthauper, na canção gravada por Andrea Boccelli em 1995. Num crescendo, a música de Sartori prepara os ouvidos para Nella Fantasia, ápice orquestral de Ennio Morricone, da trilha sonora do filme A missão. A percussão dá um tom de suspense à peça dominada pela harmonia dos vocais com os múltiplos instrumentos da OSINCA.

Completa a homenagem ao cinema a faixa 6, o solo de violino de A lista de Schindler, do compositor contemporâneo John Williams, num momento de melancolia que serve de interlúdio para o retorno às árias. A faixa 7, Ombra mai fu, da ópera Xerxes, de Händel, enaltece a incomparável sombra de um plátano. Um tema prosaico é o mote para esta que se tornou uma das mais famosas árias händelianas.

A mistura de pop com clássico da OSINCA chega ao auge na faixa 8, talvez a mais emblemática do CD. O maestro Fernando Cordella compôs o arranjo para o sucesso do Alphaville, Forever Young, para sua bem afinada orquestra acompanhar o inspirado dueto de soprano e tenor.

O CD está chegando ao fim. É hora de um allegretto de Beethoven para educar os ouvidos e preparar o grand finale da faixa 10: Aleluia de Händel.

Por sinal, não é à toa que o compositor barroco, com 3 peças, constrói a “coluna vertebral” do CD: a música de Händel, embora ligada a um “movimento”, é cosmopolita e popular, até mesmo pela trajetória do compositor alemão, naturalizado britânico.

Tanto melhor: são nessas faixas barrocas que o ouvinte tem a oportunidade de captar todas as sutis e delicadas sonoridades do cravo, instrumento em que Fernando Cordella é especialista.

Os 44 minutos do No. 1 passam voando e são uma excelente pedida para relaxar numa chuvosa tarde de sábado ou como trilha sonora de um glorioso amanhecer na rodovia.



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