terça-feira, fevereiro 14, 2017

Um carpinteiro em Marte


            John Carpenter não é um cineasta. Tal denominação cai melhor para um David Lean, um Steven Spielberg, um William Wyler. Pessoas acostumadas com orçamentos épicos e elencos grandiosos.
            Este especialista em suspense é também especialista em driblar os baixos orçamentos com imaginação e um instinto natural para o grotesco. Desde o início da carreira, emplacou pequenos clássicos do terror, como Halloween (1978) e Christine (1983). Também inovou nos policiais, vide a violência e a fotografia sombrias de Assalto à 13º DP (1976).
            Pelo modo com que faz seus filmes, o diretor John Carpenter mais se assemelha a um humilde carpinteiro. Na sua oficina, recebe a matéria-prima de um novo trabalho. Um roteiro simples de ação ou suspense. Abre seu armário de ferramentas. Hora de lançar mão de seu arsenal. Atores pouco conhecidos, alguns beirando a canastrice. Efeitos especiais suspeitos, entre o econômico e o podreira.  Uma pitada de humor negro. E muito sangue.
            O resultado sempre tem a sua marca registrada. Um dos motivos é a música de sua autoria. Do piano sinistro de Halloween ao rock pesado de Fantasmas de Marte, Carpenter não abre mão de fazer a música de seus filmes.
            Nem sempre, porém, o produto sai bem acabado. É o caso de Fantasmas de Marte (2001). O filme oscila entre o suspense, a sátira e a paródia. O enredo, alegadamente inspirado no faroeste Onde começa o inferno, de Howard Hawks, passa-se em Marte no ano de 2176. Os terráqueos têm colônias no planeta vermelho. E onde há humanos, há mocinhos e bandidos.
            Quem conta a história é a tenente Melanie (Natasha Henstridge), em flashbacks que satirizam a onda de filmes contados de trás para frente. Ela é a oficial de uma missão especial. Com a ajuda da comandante, um experiente sargento e dois recrutas, viajam de trem até uma estação para fazer a transferência de um perigoso facínora, codinome Desolation (Ice Cube).
            Este é o ponto de partida para uma trama (?) repleta de cabeças decepadas, invasões de corpos, jugulares cortadas e dedos atorados. O que sustenta o filme é justamente a dupla de protagonistas. A possante (e não siliconada) loira Natasha e o mal-encarado Ice Cub fazem funcionar uma parceria improvável – mas quente.

            Subcultura? Pode até ser, mas John Carpenter não está nem aí. Não é um enganador. Entrega ao público o que ele pagou para ver.

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