quarta-feira, dezembro 23, 2009

Avatar


James Cameron retorna às telas em grande estilo. Depois de Titanic (1997), o realizador que estreou com o trash Piranhas Voadoras II (1982) ficou exatos doze anos no limbo para simplesmente lançar um filme revolucionário. Che Guevara ficaria orgulhoso de Jake Sully.

O roteiro de Avatar tem todos os ingredientes que fizeram o sucesso dos outros filmes de Cameron. Senão, vejamos:

* a ação de O exterminador do futuro (1984);
* o trabalho em equipe de Aliens (1986) e a capacidade de criar frases que entraram para a história do cinema (vide Get away from her, you bitch);
* a concepção de seres estranhos de O abismo (1989);
* as lutas de O exterminador do futuro 2 (1991);
* o humor de True Lies (1994);
* o romance de Titanic (1997).

Cameron colocou todos esses ingredientes em seu caldeirão de ficção científica e surgiu Pandora, um mundo fantástico para onde os humanos vão com o objetivo de colonizar o local e obter grandes quantidades de um valioso minério. Mas em Pandora vive uma espécie de seres inteligentes, os Na'vi. Para melhor conhecer os hábitos desse povo, os cientistas, com a ajuda da engenharia genética, criam em laboratório híbridos cuja consciência é comandada pelo cérebro de um humano que, ao entrar numa cápsula, adormece e acorda no corpo do Avatar (a denominação dos híbridos). É assim que Jake Sully (Sam Worthington), soldado que ficou paraplégico e é selecionado para trabalhar no programa, pela primeira vez abre os olhos e tem todas as informações sensoriais de um Na'vi. Essa cena, embora muito emocionante, é apenas uma pálida demonstração das sensações que Cameron nos reserva.

Para se relacionar com os Na'vi, Jake Sully recebe os conselhos de dois 'gurus': Grace (Sigourney Weaver, a eterna Ripley da série Alien), a cientista-chefe, e o coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), o comandante das operações militares, duas personagens contraditórias e difíceis de lidar. O elenco conta também com Giovanni Ribisi, no papel do asqueroso e ganancioso Parker Selfridge, o gerente de operações da colônia humana em Pandora, e Michelle Rodriguez, que encarna a confiável Trudy Chacon, amiga de Jake Sully e piloto de uma das aeronaves de combate.
Do lado dos Na'vi temos Wes Studi como o chefe Eytukan, Laz Alonso como Tsu'tey e a ótima Zoe Saldana (ver foto abaixo tirada na première de Avatar em L. A.) como a esquisita e misteriosa Neytiri.
Qualquer coisa que se comente sobre Avatar será inócua e sem sentido se a pessoa não ver o filme num cinema 3-D. A experiência é inigualável e inesquecível e impossível de não querer repeti-la.


domingo, dezembro 06, 2009

Abraços partidos


A primeira cena de Abraços partidos (Los abrazos rotos, 2009), do diretor espanhol Pedro Almodóvar, é plena de sensualidade. Uma bela moça pede a um homem qual parte do jornal ele deseja ouvir. O homem diz que não está interessado no jornal, mas sim nela. Pede que ela se descreva. Ela então diz que é "ruvia de pelo largo" e tem olhos verdes, meio azulados no verão. Ele toca de leve o cabelo dela e desce os dedos, passando por pálbebras, rosto e seios. Os dois se beijam.
Assim o espectador é apresentado ao protagonista (que, como Almodóvar, é diretor de cinema e roteirista). E vai saber como ele chegou a essa situação por meio de um roteiro tipo vaivém, indo e voltando no tempo. Colcha de retalhos costurada sem pressa, quebra-cabeça montado devagar. Na verdade, o foco não é na dinâmica do contar e sim no que é contado, nas personagens desnudadas (algumas literalmente) ao longo da película.
Personagem importante na vida de Harry Caine é a produtora Judit (Blanca Portillo), que cuida de tudo na vida de Harry, desde problemas domésticos até os detalhes da produção.
Numa das idas e vindas do roteiro, ficamos conhecendo uma atriz que vai acabar se tornando uma grande paixão de Harry: a sensual Madalena (Penélope Cruz), mulher de um rico empresário. Mas antes novo rewind para apresentar todo o contexto no qual Lena se envolve com o possessivo Ernesto Martel (Jose Luis Gomez). O fato é que Lena faz um teste para participar de uma película de Harry, que se perturba com a presença dela e resolve contratá-la. O marido para não perder a ingerência sobre a amada resolve patrocinar o filme e manda o filho gravar o making-of. E uma das grandes ideias de Almódovar: o enciumado marido contrata uma leitora de lábios para, a partir das cenas do making-of, ler o que o o diretor conversa com sua atriz principal.
Outra personagem no mínimo interessante: o projeto de diretor de cinema Ray X (Ruben Ochandiano), enigmática figura que aparece em cenas estranhas. Ele também é retratado em duas épocas, e, quando adolescente, sua postura é caricatural, pendendo ao cômico.
Uma das cenas mais bonitas do filme é a cena de pura paixão entre Lena e Mateo/Harry à beira-mar, ao som de Werewolf da banda Cat
Power. O bom dos filmes de Almodóvar é que sempre se fica com vontade de revê-los e mesmo antes de rever fazemos novas releituras mentais das cenas e chegamos a conclusões diferentes sobre as atitudes tanto das personagens quanto do realizador. Só um cinema rico de ideias e imagens significativas permite esse tipo trabalho mental do surpreso e grato espectador.