domingo, agosto 16, 2009

Tempos de paz


Adaptação da multipremiada peça Novas diretrizes em tempos de paz, do dramaturgo Bosco Brasil, sucesso no eixo Rio-São Paulo nos anos de 2002-2003 que depois excursionou pelo país de Blumenau a Belém. A tradutora e crítica de teatro Barbara Heliodora classificou a peça como "imperdível" e o texto como "(...) uma trama fascinante, que ao mesmo tempo descobre para os brasileiros um Brasil de crueldade até aqui ignorada e cria uma linda e comovente metáfora sobre as razões de ser do teatro". Heliodora destaca o engenhoso uso feito por Bosco Brasil de um excerto da peça "A vida é sonho" de Calderón de la Barca. A crítica publicada no Jornal O Globo em setembro de 2002 pode ser lida na íntegra

18 de abril de 1945. A Segunda Guerra Mundial em vias de terminar. Os presos políticos do governo Vargas são libertados, entre eles o Doutor Penna (o diretor Daniel Filho), decidido a reencontrar alguém.
Nesse meio-tempo, o polônes Clausewitz (Dan Stulbach) está chegando ao Brasil num transatlântico. Tem visto mas precisa de salvo-conduto para permanecer em terras brasileiras. Declara-se na alfândega como agricultor, mas sabe português e declama Drummond, o que desperta as suspeitas de Honório (Ailton Graça), que leva ao caso ao superior, o temido Segismundo (Tony Ramos). Cabe a Segismundo a decisão sobre o destino do migrante. Fica ou não fica em terras tupiniquins? Eis a questão.
Os dois personagens travam um embate psicológico enquanto contam um ao outro suas lembranças. Segismundo, que se diz vindo do Rio Grande do Sul, conta sem emoção os "serviços" que fazia a mando de seu padrinho e outras memórias que envolvem sua irmã (interpretada por Louise Cardoso); Clausewitz, o polonês que se declara agricultor, conta as agruras da guerra e tenta provar ao inquiridor que merece a honra de ficar no Brasil, afinal, o país "precisa de braços para a lavoura".
O filme funciona porque as adaptações feitas para a tela não chegam a comprometer a qualidade do texto original. O diretor Daniel Filho, que se compara a Woody Allen, nesta película está mais para um David Mamet, dramaturgo e cineasta que escreveu no livro Os três usos da faca: "A peça de mensagem é um melodrama isento de inventividade".
Justamente porque escapa da armadilha de querer "passar uma mensagem", Tempos de paz é um filme que merece ser visto.

Um comentário:

  1. Gostei bastante do filme, achei uma boa transposição do teatro pro cinema... além de ser uma homenagem muito boa e merecida ao teatro, né?

    Agora, o Daniel Filho se compara ao Woody Allen? AHUA, essa é boa...

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