quarta-feira, dezembro 23, 2009

Avatar


James Cameron retorna às telas em grande estilo. Depois de Titanic (1997), o realizador que estreou com o trash Piranhas Voadoras II (1982) ficou exatos doze anos no limbo para simplesmente lançar um filme revolucionário. Che Guevara ficaria orgulhoso de Jake Sully.

O roteiro de Avatar tem todos os ingredientes que fizeram o sucesso dos outros filmes de Cameron. Senão, vejamos:

* a ação de O exterminador do futuro (1984);
* o trabalho em equipe de Aliens (1986) e a capacidade de criar frases que entraram para a história do cinema (vide Get away from her, you bitch);
* a concepção de seres estranhos de O abismo (1989);
* as lutas de O exterminador do futuro 2 (1991);
* o humor de True Lies (1994);
* o romance de Titanic (1997).

Cameron colocou todos esses ingredientes em seu caldeirão de ficção científica e surgiu Pandora, um mundo fantástico para onde os humanos vão com o objetivo de colonizar o local e obter grandes quantidades de um valioso minério. Mas em Pandora vive uma espécie de seres inteligentes, os Na'vi. Para melhor conhecer os hábitos desse povo, os cientistas, com a ajuda da engenharia genética, criam em laboratório híbridos cuja consciência é comandada pelo cérebro de um humano que, ao entrar numa cápsula, adormece e acorda no corpo do Avatar (a denominação dos híbridos). É assim que Jake Sully (Sam Worthington), soldado que ficou paraplégico e é selecionado para trabalhar no programa, pela primeira vez abre os olhos e tem todas as informações sensoriais de um Na'vi. Essa cena, embora muito emocionante, é apenas uma pálida demonstração das sensações que Cameron nos reserva.

Para se relacionar com os Na'vi, Jake Sully recebe os conselhos de dois 'gurus': Grace (Sigourney Weaver, a eterna Ripley da série Alien), a cientista-chefe, e o coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), o comandante das operações militares, duas personagens contraditórias e difíceis de lidar. O elenco conta também com Giovanni Ribisi, no papel do asqueroso e ganancioso Parker Selfridge, o gerente de operações da colônia humana em Pandora, e Michelle Rodriguez, que encarna a confiável Trudy Chacon, amiga de Jake Sully e piloto de uma das aeronaves de combate.
Do lado dos Na'vi temos Wes Studi como o chefe Eytukan, Laz Alonso como Tsu'tey e a ótima Zoe Saldana (ver foto abaixo tirada na première de Avatar em L. A.) como a esquisita e misteriosa Neytiri.
Qualquer coisa que se comente sobre Avatar será inócua e sem sentido se a pessoa não ver o filme num cinema 3-D. A experiência é inigualável e inesquecível e impossível de não querer repeti-la.


domingo, dezembro 06, 2009

Abraços partidos


A primeira cena de Abraços partidos (Los abrazos rotos, 2009), do diretor espanhol Pedro Almodóvar, é plena de sensualidade. Uma bela moça pede a um homem qual parte do jornal ele deseja ouvir. O homem diz que não está interessado no jornal, mas sim nela. Pede que ela se descreva. Ela então diz que é "ruvia de pelo largo" e tem olhos verdes, meio azulados no verão. Ele toca de leve o cabelo dela e desce os dedos, passando por pálbebras, rosto e seios. Os dois se beijam.
Assim o espectador é apresentado ao protagonista (que, como Almodóvar, é diretor de cinema e roteirista). E vai saber como ele chegou a essa situação por meio de um roteiro tipo vaivém, indo e voltando no tempo. Colcha de retalhos costurada sem pressa, quebra-cabeça montado devagar. Na verdade, o foco não é na dinâmica do contar e sim no que é contado, nas personagens desnudadas (algumas literalmente) ao longo da película.
Personagem importante na vida de Harry Caine é a produtora Judit (Blanca Portillo), que cuida de tudo na vida de Harry, desde problemas domésticos até os detalhes da produção.
Numa das idas e vindas do roteiro, ficamos conhecendo uma atriz que vai acabar se tornando uma grande paixão de Harry: a sensual Madalena (Penélope Cruz), mulher de um rico empresário. Mas antes novo rewind para apresentar todo o contexto no qual Lena se envolve com o possessivo Ernesto Martel (Jose Luis Gomez). O fato é que Lena faz um teste para participar de uma película de Harry, que se perturba com a presença dela e resolve contratá-la. O marido para não perder a ingerência sobre a amada resolve patrocinar o filme e manda o filho gravar o making-of. E uma das grandes ideias de Almódovar: o enciumado marido contrata uma leitora de lábios para, a partir das cenas do making-of, ler o que o o diretor conversa com sua atriz principal.
Outra personagem no mínimo interessante: o projeto de diretor de cinema Ray X (Ruben Ochandiano), enigmática figura que aparece em cenas estranhas. Ele também é retratado em duas épocas, e, quando adolescente, sua postura é caricatural, pendendo ao cômico.
Uma das cenas mais bonitas do filme é a cena de pura paixão entre Lena e Mateo/Harry à beira-mar, ao som de Werewolf da banda Cat
Power. O bom dos filmes de Almodóvar é que sempre se fica com vontade de revê-los e mesmo antes de rever fazemos novas releituras mentais das cenas e chegamos a conclusões diferentes sobre as atitudes tanto das personagens quanto do realizador. Só um cinema rico de ideias e imagens significativas permite esse tipo trabalho mental do surpreso e grato espectador.


sábado, novembro 28, 2009

500 dias com ela


Narrativa não linear de um não romance entre um não casal. Tom é um cara que curte bandas dos 80 como Smiths e Joy Division, e Pixies dos 90. Lê Alain de Botton e Salinger. É arquiteto, mas trabalha como criador de cartões de dia dos namorados. Devido a uma leitura errada do filme A primeira noite de um homem, e ao contato com músicas dos 80, tornou-se um introvertido ultraromântico. Acredita em amor à primeira vista, em destino e coisas assim. Tom conhece Summer (Zooey Deschanel), morena de olhos azuis que vai trabalhar na mesma empresa que ele, e se apaixona. Não exatamente à primeira vista, mas à medida que vai descobrindo que ela gosta das mesmas coisas bizarras que ele. Por exemplo, uma cena em que os dois estão sozinhos no elevador, ele escutando Smiths no fone de ouvidos e ela canta um trecho da música There's a light that never goes out.
É assim, aos pouquinhos, que Tom forma a certeza de que Summer é "the one". Summer, por sua vez, apenas acha Tom um carinha interessante, talvez uma nova conquista. Mas desde o começo deixa bem claro a ele que não quer se apaixonar e sim apenas um relacionamento "casual".
Invertem-se os papéis: a posição masculina de defesa é adotada justamente por Summer, e a posição feminina de morrer de amores é encarnada por Tom. Quando eles têm a primeira noite de amor (para ele) e de sexo (para ela), na manhã seguinte Tom acorda sentindo-se o melhor dos homens, e as pessoas que passam por ele contagiam-se com sua felicidade.
Que, como sói acontecer, is a warm gun...
Este filme de boa bilheteria nos EUA é o segundo trabalho dos roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber (o outro foi Pantera Cor de Rosa 2) e a estreia do diretor Marc Webb. Vale conferir pelas inúmeras referências, pela trilha sonora e pela (clichê!) química mesmo não estequiométrica da dupla de protagonistas.

quinta-feira, novembro 19, 2009

Código de conduta


Law Abiding Citizen (algo como "cidadão cumpridor das leis")* virou Código de conduta no título brasileiro. Desta vez, o ubíquo e onipresente Gerard Butler encarna Clyde Shelton, que assiste a família (mulher e filha pequena) ser assassinada de modo brutal em plena casa invadida por dois assaltantes. Um deles, ao esfaquear Clyde, fala "you can't fight fate" (é inútil lutar contra o destino). Mas é exatamente isso que Clyde vai fazer durante toda a sua saga de busca de vingança. Que, como costuma acontecer, é um prato que se come frio. 
       O promotor de justiça Nick Rice (o oscarizado Jamie Foxx, em atuação burocrática) faz um acordo com o advogado do assassino mais violento: ele entrega o comparsa (que na verdade foi cúmplice do roubo mas não esfaqueou as vítimas) e ganha uma pena branda (cinco anos).
       Depois dessa breve introdução, logo o filme se transporta para dez anos depois, quando um dos bandidos vai ser executado (enquanto o mais violento já está solto). Não vou contar mais nada do 'plot', basta dizer que Clyde, guardadas as proporções, lembra um pouco o D-Fens de Michael Douglas em Falling Down de Joel Schumacher (Um dia de fúria, 1993). 
      No filme de Schumacher, um cidadão indignado com a mediocridade, a violência e a estupidez das pessoas reage com mediocridade, violência e estupidez. No filme de F. Gary Gray, um cidadão cumpridor das leis resolve desafiar o sistema judiciário, que, segundo ele, está "broken" (falido) (na legenda saiu como 'imperfeito', boa solução tradutória). O clichê de sempre: "o roteiro tem boas sacadas que valem o ingresso; o filme entretém ao mesmo tempo em que provoca certas discussões interessantes." Mas não deixa de ser verdade. Não recomendado para pessoas sensíveis (algumas cenas insinuam situações ultraviolentas).
Filmografia resumida do eficiente F. Gary Gray, que em 2019 assinou o novo filme da franquia Men in Black:
2011 = The Brazilian Job (que acabou sendo cancelado!)
2009 = Law Abiding Citizen (Código de conduta)
2005= Be Cool (O outro nome do jogo)
2003 = A Man Apart (O vingador)
2003 = The Italian Job (Uma saída de mestre)
1998 = The Negotiator (O negociador)
1996 = Set it Off (Até as últimas consequências)
1995 = Friday (Sexta-feira em apuros)
* (To abide é conformar-se, tolerar, suportar, cumprir; a expressão 'law abiding' está adjetivando o 'citizen', então 'law abiding citizen'=~ "cidadão cumpridor das leis")

quinta-feira, outubro 15, 2009

Bastardos inglórios

Com exceção de uma sequência (a protagonizada por Mike Myers), Bastardos inglórios é impecável. A cena de Myers não convence porque fica indecisa entre o esculacho e a verossimilhança interna. Tipo de cena que destoa e pode ser sacada com ganhos.
No mais, os capítulos do novo filme de Quentin Tarantino são repletos de suspense e humor na medida certa. O charmoso e ao mesmo tempo tenebroso cenário é a França controlada pelos nazistas, retratados no capítulo 1 como manipuladores, asquerosos, racistas e antissemitas. O coronel Hans Landa (Christoph Waltz), um dos personagens mais nojentos da história do cinema, visita a residência de um produtor de leite à procura da família Dreyfus, que estaria refugiada na propriedade. A sequência toda é um primor e já vale o filme, com uma cena homenageando o filme Rastros de ódio (The searchers), de John Ford. O capítulo 1 introduz além de Landa outra personagem essencial da história: a selvagem Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent, na foto).

Para contrabalançar a violência nazista, a América envia um micropelotão comandado pelo tenente Aldo Raine (Brad Pitt) com o único objetivo de instalar o terror nas hostes alemãs por conta de barbáries como tirar o escalpo dos inimigos mortos e marcar a suástica na testa dos vivos. Logo a fama dos "Inglourious basterds" se espalha e alguns de seus integrantes ganham alcunhas sugestivas como o sargento Donnie Donowitz (Eli Roth), que passa a ser conhecido como o "Urso Judeu" e o tenente Aldo como "Apache". O sargento Donnie ganha fama por destroçar prisioneiros indefesos com um taco de beisebol em espetáculos dantescos.

Os desdobramentos e episódios seguem a estrutura tarantiniana de diálogos cortantes e inusitados com suspense crescente que acabam em múltiplos ápices banhados de sangue, suor e lágrimas. A selvageria dos dois lados é enfatizada sem firulas. Não há mocinhos nem bandidos, apenas pessoas sem moral ou vingativas. Vingança fenomenal é a planejada por Shosanna, agora morando em Paris e proprietária de um cinema. Com a ajuda do amante Marcel (Jacky Ido) ela vai provar que a vingança é um prato que se come frio.

Ser impecável não significa ser ótimo ou genial, mas fato inegável é a rapidez com que os 210 minutos frenéticos se escoam. As duas horas e meia passam num piscar de olhos, e isso é sinal de que o filme é pelo menos bom. É bem verdade, Tarantino não usa o cinema para denunciar nem para provocar profundas meditações. Realiza uma espécie de entretenimento com conteúdo estético e texto apurado. Num século em que o cinema e a literatura se banalizaram, um diretor como Tarantino se destaca por sua originalidade, ironia e capacidade de desconcertar.

terça-feira, outubro 06, 2009

Deixa ela entrar


Desde Minha vida de cachorro (1986), de Lasse Hallström, o cinema sueco não renovava tanto. Desde que o menino Ingemar entalou o pênis numa garrafa e ficou orfão não víamos outro menino sueco passar por peripécias tão angustiantes. Agora é a vez de Oskar, menino perseguido por colegas da escola que ganha uma nova vizinha no prédio onde mora. Falo do filme Deixa ela entrar, de Tomas Alfredson.

Mas como assim? Renovar é algo difícil hoje em dia. E como falar em renovação num filme com uma profusão de citações, referências e intertextos? Onde está a renovação se cada cena de Deixa ela entrar nos remete a Martin (1978, de George Romero) e a Near Dark (Quando chega a escuridão, 1987, de Kathryn Bigelow), para citar apenas dois? Tudo bem, então. Deixa ela entrar (2008) não renova nada, apenas impressiona. E como.

Para começar, é impressionante a musicalidade deste idioma, o sueco, o modo como ele reverbera em nossos tímpanos já cansados de tanto português e inglês. Passar duas horas ouvindo sueco é algo definitivamente impressionante (e renovador).

Em segundo lugar, em que filme um ser humano é pendurado de ponta cabeça numa árvore e tem a jugular cortada como um porco e o sangue coletado num frasco com a ajuda de um funil? Se isso não é renovador, então pelo menos é impressionante.

Em terceiro lugar, que filme é vendido como terror, mas no fundo tem como tema a amizade ou o amor como queiram? Sem falar nos temas básicos de filmes de vampiros: dependência, instinto, imortalidade.

Fome de viver é o que não falta para Eli (Lina Leandersson), a nova inquilina do prédio de Oskar (Kare Hedebrant). O guri é filho de pais separados e mora com a mãe. Na escola, é maltratado e humilhado por um trio de colegas. Em vez de revidar, Oskar sofre enxovalhos e se cala. Em linha reta continua sua trajetória até que conhece Eli, e seu mundo vira ao avesso. Poderoso vínculo de amizade os une, que evolui para um namoro impúbere e puro.
E em que consiste uma amizade senão em aceitar o amigo como ele é? Em que consiste um namoro senão estar sempre presente para o que der e vier?

A primordial qualidade de Deixa ela entrar é contar uma história de modo simples e eficiente. Terror? Depende do ponto de vista. Para mim, é uma bela história de amor. E de como o amor tem um ciclo de ápice e extinção. Para se renovar outra vez.

domingo, setembro 27, 2009

A verdade nua e crua

Este filme do mesmo diretor de Legalmente loira (2001) e A sogra (2005) foi roteirizado por três mulheres. Esse fato poderia levar alguém a pensar que a sua linguagem seria delicada. Sem dúvida, num filme rotulado como "comédia romântica" escrito por três mulheres, a palavra mais falada seria "amor". Entretanto, The ugly truth (A verdade nua e crua) contém um festival de palavras de baixo calão, e a palavra de quatro letras mais usada certamente não começa com l de love e sim com f***. Claro que as moças autoras do roteiro tiveram o cuidado de colocar essas palavras na boca de um homem, Mike Alexander (Gerard Butler), apresentador de um polêmico programa de TV que recomenda mulheres queimarem livros de autoajuda e aprenderem a conquistar os homens pelas curvas e pela habilidade sexual. No dicionário de Mike nem existe a palavra amor. O programa tem o mesmo nome do filme e elevada audiência apesar de ser de uma emissora pequena. Eis que a emissora maior onde trabalha a produtora Abby Richter (Katherine Heigl, de Ligeiramente grávidos) contrata a nova sensação. Mas o problema é que Abby abomina o tipo de TV feito por Mike, sensacionalista e vulgar. Os dois terão que aprender a trabalhar juntos e, neste meio-tempo, Abby terá que aprender a conquistar um homem (no caso, o médico interpretado por Eric Winter) e para isso vai contar com os sábios conselhos de Mike. Butler está impagável em várias cenas e Heigl não deixa por menos, protagonizando cenas hilárias como as retratadas aqui neste post (a do jogo de beisebol, e a cena do restaurante, em que Abby está vestindo uma calcinha com dispositivo para massagear o clitóris cujo controle remoto acaba caindo na mão de um menino). A verdade nua e crua é que The ugly truth mantém a coerência e a qualidade relativa da carreira de Luketic.

Two lovers (Amantes)




If you want an easily forgettable experience, keep away from Two lovers. But if you want to enjoy rich, fulfilling moments you should seriously consider about trying Two lovers at once.
In other words, if you are longing to see an “unpretentious romantic comedy” or a funny popcorn movie just to pass your time, you had better avoid Two lovers. But if you like movies with a couple of unpredictable characters and, after the movie session, you would enjoy going to a pub with your lover(s) and discuss such relevant questions as “Why are we humans so self-destructive?” or “Why do when we have two clear options in our lives, one of which is safe and the other is risky, and the former would lead you to stability and happiness while the latter to uneasiness and despair, why do we always tend to take the wrong decision?” then Two lovers could be a nice alternative.
Director James Gray tells us the story of Leonard Kraditor (Joaquin Phoenix), who recently broke up with his fiancée due to genetic incompatibility. They have made some tests before marrying and the tests appointed that if they were going to have children, their children would be born with Tay-Sachs disease. This is a severe genetic condition most common in Eastern European (Ashkenazi) Jews whose symptoms include feeding difficulties, loss of motor skills, blindness, deafness and loss of intellectual skills; death usually comes before children are 5 years old). This unfortunate situation has made Leonard come back to live with his parents, a natural thing to do since he works at his father business, a laundry. His job is actually very subaltern, a job that doesn’t offer him a way to develop his intellect and abilities. So what would you try do to in a cloudy day if you were a guy with a pitiful job and a broken heart passing over a bridge?
But not everything is dark in Leonard’s live. After all, he has a loving mother and a flexible father. And, in order to definitely forget his fiancée, he is going to meet two very different girls. The first one is Sandra Cohen (Vinessa Shaw), a beautiful brunette with who is daughter of the future commercial partners of the family. There is going to be a merger between the two laundries companies, and is always good and advisable to join the useful to the pleasant. Sandra is almost too perfect to be true, and the most incredible thing: she is very interest in Leonard.


The other girl lives at his building. Her name is Michelle. As Sandra, she is a very acttractive girl, but the similarities end here. Michelle is one of those mysterious blondie girls who seem to have a painful secret. Emotionally disturbed and with a puzzling attitude, she immediately sparks Leonard's interest and they become friends. But how on earth could a man want just friendship with a woman like Michelle?

The way in which James Gray conducts the plot is smart and slow, without any hurries. And he doesn’t seem to be ashamed of inserting a lot of references to other movies, such as Le Notti Bianchi, de Luchino Visconti (which, as Two lovers, is also based on Dostoyesvsky's novel White nights), The Rear Window, by Alfred Hitchcock and Body Double by Brian De Palma, and even TV series such as Twin Peaks, by David Lynch.
From Visconti's movie, Gray steals some scenes and the idea of updating the spirit of Dostoyevsky characters. The link with The Rear Window happens because Leonard can see Michelle’s apartment through his rear, indiscreet window. And the voyeur theme explored by De Palma in Body Double is revisited when Leonard takes photographs of Michelle through the open window. Connection with Twin Peaks comes because of Michelle’s distressed character, who remembers us of the helpless Laura Palmer. Other link with David Lynch’s movies could be the presence of Lynch's ex-wife and muse, Isabella Rossellini, as Leonard’s mother.
The cast is pretty well-chosen and includes Elias Koteas as someone important in Michelle's live. Leading actor Joaquin Phoenix is fairly convincing as Leonard and finally proves that he can be so gifted as his late brother River. The soundtrack probably is good because it doesn’t call our attention at all. On the whole, Two lovers is worth seeing, because not only is a well written, acted and directed movie, but also it allows some thought and discussion about key issues to our lives.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Vestido de noiva

Conforme Décio de Almeida Prado, Vestido de Noiva é uma peça impregnada não de amor, mas de sexo, e Nelson Rodrigues aborda sem vulgaridade um assunto que alguém poderia considerar "vulgar".
O texto do controvertido dramaturgo, tido como ponto referencial no teatro moderno brasileiro, ganha em 2009 montagem dirigida por Gabriel Villela. A trupe tem viajado Brasil afora, levando a plagas distantes como a nossa província um espetáculo desafiador e, para usar um adjetivo proibido pelo Manual de Estilo do Estadão, "instigante". A explicação do manual é que instigante é um adjetivo clichê. Mas venhamos e convenhamos, sempre que um livro ou filme ou peça não empolga muito mas provoca os sentidos e o intelecto, lá vem o adjetivo à mente. Instigante.
O fato é que ao cabo da peça houve gritos de "Bravo!" e o público aplaudiu de pé. Se bem que eu nunca sei se o público porto-alegrense aplaude de pé por gratidão ou por merecimento.
Analisar o elenco seria pretensão, mas é preciso destacar a presença hipnótica de Luciana Carnieli, que encarna a sensual Madame Clessi, e a interpretação divertida de Marcello Antony, que lembra com seu Pedro um Hamlet pândego. Completam o elenco Vera Zimmermann e Leandra Leal, as irmãs Lúcia e Alaíde, respectivamente. No elenco de apoio, provoca risos na plateia o desconhecido ator que vive a sogra de Alaíde. A peça inicia com o atropelamento de Alaíde e conta de modo nada linear a história da tragicômica competição entre as irmãs pelo amor (sexo?) de Pedro.

domingo, agosto 16, 2009

Drag me to hell

Hardcore. Tem que ser hard, tem que ser core.
Tem que ser hardcore. Dificilmente Sam Raimi conhece Replicantes, mas seguiu o conselho à risca ao realizar a pedrada nos nervos Drag me to hell. Se nos primeiros quinze minutos o espectador que se considera experiente no gênero "terror-fantástico-escatológico" ainda consegue dar algumas risadinhas para disfarçar o medo, como se Sam Raimi ainda estivesse se decidindo se faria um filme mais à la Evil Dead II do que à Evil Dead I, eis que a impressão logo passa e fica difícil não se encolher na poltrona num crescente de inquietude, opressão, pesadelo e pavor. Não resta dúvidas: desta vez Raimi não está para brincadeiras.
A ambiciosa heroína da película, a bancária Christine Brown (Alison Lohman, a bela da foto abaixo), compete para conquistar uma promoção no trabalho. Para isso, tenta provar ao chefe Mr. Jacks (David Paymer) que é uma aposta melhor do que o concorrente Stu Rubin (Reggie Lee). Namorada do insosso, porém apaixonadinho professor de Filosofia Clay Dalton (Justin Long), Christine é responsável por administrar os empréstimos e as hipotecas. Um belo e fatídico dia senta-se à sua mesa a sra. Sylvia Ganush (Lorna Raver, a fera da foto acima). Mas até que a netinha dela Ilenka Ganush (Bojana Novakovic!) não é de se jogar fora. E não convém contar mais do que isso para não ser estraga-prazeres, se é que pode se chamar de prazer sentir o sangue enregelar nas veias. Bom saber que Raimi não vendeu a alma ao demônio Hollywood.

Tempos de paz


Adaptação da multipremiada peça Novas diretrizes em tempos de paz, do dramaturgo Bosco Brasil, sucesso no eixo Rio-São Paulo nos anos de 2002-2003 que depois excursionou pelo país de Blumenau a Belém. A tradutora e crítica de teatro Barbara Heliodora classificou a peça como "imperdível" e o texto como "(...) uma trama fascinante, que ao mesmo tempo descobre para os brasileiros um Brasil de crueldade até aqui ignorada e cria uma linda e comovente metáfora sobre as razões de ser do teatro". Heliodora destaca o engenhoso uso feito por Bosco Brasil de um excerto da peça "A vida é sonho" de Calderón de la Barca. A crítica publicada no Jornal O Globo em setembro de 2002 pode ser lida na íntegra

18 de abril de 1945. A Segunda Guerra Mundial em vias de terminar. Os presos políticos do governo Vargas são libertados, entre eles o Doutor Penna (o diretor Daniel Filho), decidido a reencontrar alguém.
Nesse meio-tempo, o polônes Clausewitz (Dan Stulbach) está chegando ao Brasil num transatlântico. Tem visto mas precisa de salvo-conduto para permanecer em terras brasileiras. Declara-se na alfândega como agricultor, mas sabe português e declama Drummond, o que desperta as suspeitas de Honório (Ailton Graça), que leva ao caso ao superior, o temido Segismundo (Tony Ramos). Cabe a Segismundo a decisão sobre o destino do migrante. Fica ou não fica em terras tupiniquins? Eis a questão.
Os dois personagens travam um embate psicológico enquanto contam um ao outro suas lembranças. Segismundo, que se diz vindo do Rio Grande do Sul, conta sem emoção os "serviços" que fazia a mando de seu padrinho e outras memórias que envolvem sua irmã (interpretada por Louise Cardoso); Clausewitz, o polonês que se declara agricultor, conta as agruras da guerra e tenta provar ao inquiridor que merece a honra de ficar no Brasil, afinal, o país "precisa de braços para a lavoura".
O filme funciona porque as adaptações feitas para a tela não chegam a comprometer a qualidade do texto original. O diretor Daniel Filho, que se compara a Woody Allen, nesta película está mais para um David Mamet, dramaturgo e cineasta que escreveu no livro Os três usos da faca: "A peça de mensagem é um melodrama isento de inventividade".
Justamente porque escapa da armadilha de querer "passar uma mensagem", Tempos de paz é um filme que merece ser visto.

terça-feira, março 31, 2009

Dúvida


Quem não se lembra dos diálogos cirúrgicos e cenas inusitadas de Feitiço da Lua (1987)? O filme valeu Oscar de Melhor Atriz para Cher e Atriz Coadjuvante para Olympia Dukakis. De quebra, um de Melhor Roteiro original para John Patrick Shanley, então com 37 anos de idade.
A estreia de John Patrick Shanley no cinema não poderia ter sido mais auspiciosa. Vamos dizer que depois as expectativas meio que se frustraram. Dirigiu o filme Joe contra o vulcão (1990) e passou a roteirizar adaptações de cotação duvidosa, como Alive (1993) e Congo (1995). Volveu o foco ao teatro: Psychophatia Sexualis (1996) e Where is my Money (2001)? Em 2004, lançou Doubt, parábola sobre a dúvida. A peça estreou fora da Broadway mas depois transferiu-se para a meca do teatro norte-americano, e dali para a telona, sob a batuta do próprio autor e diretor da peça. No cinema, é o segundo trabalho como realizador.
Dúvida baseia-se na desconfiança da Madre Superior Beauvier (Meryl Streep) com o comportamento do padre Brendan Flynn (Philip Seymour Hoffman). A dúvida surge a partir do relato da professora de História, a irmã James (Amy Adams), sobre a forma enfática com que o padre protege o único aluno negro da escola. Com o tempo, a Madre Beauvier passa a ter a certeza de que há uma relação "imprópria" entre padre e aluno. Para investigar o caso, convoca a mãe do menino de doze anos, a sra. Miller (Viola Davis).
Todo o filme se desenvolve a partir dessa situação. Pelas cenas mostradas, o espectador não tem elementos para avaliar se a desconfiança da Irmã Beauvier tem ou não fundamento. Há motivo real para suspeita ou será apenas implicância com um padre carismático e bondoso? A dúvida permeia cada fotograma, e cada pessoa enxerga a história com seus olhos, princípios e preconceitos.