sábado, julho 19, 2008

O Cavaleiro das Trevas

Christopher Nolan despontou com seu segundo filme, Amnésia (Memento), prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Sundance, em 2000. Antes filmara Following (1999). Com forte tendência de focalizar o interesse de seus filmes mais na edição do que em outros fundamentos como algo a contar (faça uma simples experiência: alugue Amnésia e selecione o extra em que o filme passa na ordem cronológica dos eventos), de modo curioso Nolan viu-se alçado à condição cômoda de novo queridinho da crítica. A partir daí, teve carreira meteórica: fez o sonolento Insônia (2002), com cenas patéticas de perseguição protagonizadas por um obeso Robin Williams e um quase ancião Al Pacino. Apesar disso, seus filmes iniciais demonstraram certa originalidade só percebida em cineastas promissores. Mas, tendo apenas 3 filmes no currículo, foi comprado pelo sistema. Escalado para dirigir a nova série de filmes do Batman, passou a dedicar-se quase que exclusivamente à franquia (a exceção foi a pausa para realizar O Grande Truque - The Prestige, 2005, com Hugh Jackman). Então, o que poderia se tornar uma carreira inventiva, inovadora e imaginativa passou a ser mero exercício de competência e aprimoramento.
Em Batman Begins (2005), e também agora com O Cavaleiro das Trevas, Nolan não decepcionou os fãs dos primeiros filmes, além de agradar aos endinheirados produtores que o contrataram. E, é claro, agradou também a crítica. Seria Nolan uma pessoa com o poder de agradar a atenienses e espartanos?

O fato é que o poder corrompe. E no caso de Nolan esse poder aparece em minutos a mais de película. Senão, vejamos:
Following (1999) = 1 hora e 10 minutos;
Memento (2000) = 1 hora e 56 minutos;
Insomnia (2002) = 1 hora e 58 minutos;
Batman Begins (2005) = 2 horas e 20 minutos;
The Prestige (2006) = 2 horas e 15 minutos;
The Dark Knight (2008) = 2 horas e 32 minutos.
Como é fácil de observar, os filmes mais recentes de Nolan tem metragem mais extensa. Tudo isso para dizer que O Cavaleiro das Trevas seria um ótimo filme caso tivesse menos duração.
Se Nolan não tivesse tido a ânsia de contar muitas histórias num filme só, teria realizado um filme melhor - mas ninguém em sã consciência poderia dizer que "não ficou bom". Apenas quero dizer que a parte final é excessiva. Como prova disso, dou o testemunho de ter cochilado na parte daquela função dos barcos.
Quanto à atuação de Heath Ledger, é algo de memorável e surpreendente. Falar mais do que isso seria correr o risco de cometer clichês e ser... excessivo.

sábado, julho 12, 2008

O escafandro e a borboleta


Estudo de Julian Schnabel sobre a necessidade humana de comunicar pensamentos de forma articulada. Podendo mover apenas um olho, Mathieu Amalric interpreta Jean-Dominique Bauby, redator de uma revista de moda que, aos quarenta e dois anos, tem um acidente vascular cerebral. O filme focaliza as sensações de Bauby no hospital, ao perceber sua situação desesperadora (compreende tudo o que se passa mas só consegue mover o olho esquerdo). Por exemplo, numa cena de puro terror, Jean-Do vê o seu olho direito sendo costurado por decisão do médico-chefe Dr. Lepage (Patrick Chesnais). Com a pertinácia da fonoaudióloga, Bauby aos poucos começa a expor o que pensa. Primeiro, piscando uma vez para dizer "sim" e duas vezes para dizer "não". Mais tarde, ao ver repetida uma seqüência das letras do alfabeto (a partir da letra de uso mais freqüente até a menos freqüente), piscando letra a letra para formar palavras e frases. O método, apesar de demorado, seria otimizado pelo treino e renderia - com a colaboração exaustiva de Claude (Anne Consigny) - um livro aclamado pela crítica. Entremeadas ao drama da recuperação atual, cenas ajudam a montar o passado da personagem, sua agitada vida profissional, seu relacionamento com o pai Papinou (Max von Sydow), o amor pelos filhos, a relação contraditória com a ex-mulher Celine e a paixão pela namorada Inès (Agatha de la Fontaine). São inúmeros os momentos tocantes do filme, mas gostaria de mencionar um: quando Inès liga ao hospital e a ex-mulher Celine (encarnada de modo inesquecível por Emanuelle Seigner) precisa intermediar a conversa.

sábado, julho 05, 2008

WALL-E


Filho, com teus 9 meses, tu é muito novinho para ir ao cinema. Mesmo assim, estou tentando convencer tua mãe a participar dessa aventura.

Wall-E é um robozinho solitário e incansável, um dos únicos habitantes do planeta Terra, fabricado para coletar o lixo, esmagá-lo em pequenos cubos e fazer pilhas gigantescas de resíduos. A propósito, Wall-E é uma sigla em inglês (Waste Allocation Load Lifter - Earth Class), que significa algo como "Carregador e Transportador de Resíduos - Classe Terrestre". Indiferente à sua quase total solitude, Wall-E faz o que está programado a fazer. Mas está na cara que ele é um robozinho inteligente e sensível. Misto de obediência robótica e inteligência artificial, tem como único amiguinho uma barata, e como seu único momento de lazer assistir ao musical de Gene Kelly, Hello, Dolly (1969). Faz isso sempre que chega em casa - o container em que descansa depois do longo dia de trabalho. No seu cantinho, coleciona um monte de tralhas que vai achando durante o dia e que acha interessante. Mas por que Wall-E mora quase só na imensa Terra? É que os terráqueos, devido à poluição, tiveram de abandonar o planeta. Agora agora moram numa estação espacial numa galáxia próxima. Na rotina de Wall-E, também está o convívio com estranhas, freqüentes e ruidosas movimentações vindas da atmosfera. Um dia, Wall-E vai descobrir do que se trata, e conhecer uma robozinha que vai mudar sua vida. Não te preocupa, não vou contar toda a história pra ti. Acho que assim tu já pode ter uma idéia. O diretor do filme (a pessoa que toma as decisões mais importantes, planeja as tomadas e escolhe os movimentos da câmera) é Andrew Stanton, o mesmo de Procurando Nemo. Wall-E é um alerta não apenas para a tua geração, mas para toda a humanidade cuidar melhor desse tênue ponto azul chamado Terra.