sexta-feira, maio 16, 2008

Um beijo roubado

Jeremy (Jude Law), um imigrante inglês, toca o próprio negócio - espécie de confeitaria intimista - em Nova York. Uma das freguesas assíduas é Elizabeth (Norah Jones), com quem Jeremy trava aquele tipo de amizade inocente e desinteressada, mas com potencial de quem sabe, talvez, um dia, ir um pouco, bastante, muito além de uma relação cordial-comercial. Porém, entretanto, todavia, eis que o fato desencadeador acontece: o relacionamento de Elizabeth está se desintegrando. Sem aviso prévio, pára de freqüentar a confeitaria, por um simples motivo: está a centenas de milhas, em busca da auto-estima perdida.
Para os novos amigos, justifica o fato de trabalhar noite (com o nome Lizzie num bar) e dia (com o codinome Beth numa lancheria) pelo objetivo de juntar dois mil dólares para comprar um carro.
Mas, entre um emprego e outro, entre uma cidade e outra, entre o testemunho de uma história paralela e outra (que incluem o relacionamento tempestuoso de Arnie [David Strathairn], um policial beberrão, e sua sensual, mas perdida esposa [Rachel Weisz]; e as aventuras da jogadora de pôquer Leslie [Natalie Portman]), Elizabeth mantém o contato com Jeremy por meio de cartões-postais enviados à confeitaria.
Wong Kar Wai, diretor oriundo de Hong Kong, abusa dos closes, das câmaras lentas e das cores fortes para tentar dar um tom 'artístico' a My Blueberry Nights (que virou Um beijo roubado). Alguém poderia ponderar que, devido às andanças de Elizabeth, a amizade dela com Jeremy fica em segundo plano boa parte do filme. Outro rebateria que perde o 'romance', mas ganha o 'road movie'. Um espírito mais crítico poderia avaliar que, devido à dispersão de foco nas histórias paralelas, a história 'principal' (Jeremy e Elizabeth) acaba mal-desenvolvida. Outro retrucaria que, na verdade, o filme não é sobre Jeremy e Elizabeth, e sim sobre a viagem de reconstrução da vida de Elizabeth. Talvez essa seja uma boa definição - e uma das qualidades - de Um beijo roubado: difícil de rotular.

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