domingo, março 19, 2006

Um lugar para recomeçar



An unfinished life (2005) é um filme bem ao estilo do sueco Lasse Hallström. Adepto das histórias intimistas e dos dramas familiares, debateu a transição para a adolescência em Minha Vida de Cachorro (Mitt liv som hund, 1985), filme que o lançou internacionalmente. No início dos anos 90, radicou-se nos Estados Unidos sem perder o olhar sensível. Retratou como é ter um irmão deficiente em Gilbert Grape, aprendiz de sonhador (93), contou a saga de uma família apaixonada por hipismo em O poder do amor (95), debateu o aborto em Regras da vida (99), explorou as sensações do paladar com Chocolate (2000) e dissecou a mediocridade humana em Chegadas e partidas (2001). Este teve péssima recepção da crítica, tanto que deixou o diretor por 4 anos afastado. Em 2005, porém, retornou com dois filmes: Um lugar para recomeçar, estreia da semana, e Casanova (inédito).

An Unfinished Life | Netflix
Pela introdução, o incauto visitante pode perceber que o anfitrião deste blog tem especial admiração pelo trabalho do diretor. Pois é, sou assim. Não consigo esconder minhas preferências. Acredito no cinema autoral, por isso, quando gosto muito de um filme, anoto o nome do diretor. Não tem mistério. É tão simples isso. Mas 99% das pessoas que vão ao cinema não estão nem aí para o diretor. Vão ao cinema para ver este ou aquele ator, aquela ou essa atriz. Além de guardar o nome do diretor, sou um cinéfilo fiel. Pode a crítica descer o malho no cara, que eu defendo. Isto explica o nome deste blog. O olhar aqui é de cinéfilo. Condescendente, apaziguador, tolerante.


An Unfinished Life: Jennifer Lopez, Morgan Freeman, Becca Gardner ...
Um lugar para recomeçar conta a história de uma jovem e bela viúva (Jennifer Lopez), mãe de uma menina de onze anos, que é obrigada a fugir da cidade para não ser mais espancada pelo namorado. Foge para um rancho numa pequena cidade do estado de Wyoming, onde mora o avô de sua filha (Robert Redford), na companhia do amigo e sobrevivente a ataque de urso (Morgan Freeman). A princípio as duas recém-chegadas são mal recebidas, mas recebem um quarto no porão. Aos poucos, ao reconhecer na neta as características do filho morto, o rabugento rancheiro começa a gostar da menina e ensinar coisas a ela.

Image gallery for An Unfinished Life - FilmAffinity

Outros personagens são o urso cujo destino será uma surpresa, o xerife bonachão e o namorado psicopata - que, como seria de esperar, vai atrás da Jennifer Lopez. Mais um filme com as marcas de Lasse Hallström: sensibilidade, ternura e reflexão.

A Pantera Cor-de-Rosa

Nomeado inspetor pelo chefe da polícia (Kevin Kline), Clouseau (Steve Martin) investiga o mistério que envolve a morte de um treinador de futebol ocorrida no estádio lotado e o roubo do raro diamante que lhe pertencia - Pink Panther. Pateta como ele só, o Inspetor Clouseau, com um ajudante fiel (Jean Reno) com quem vive brigando e uma secretária apaixonada com quem vive flertando, enfrenta muitos perigos e muitas peripécias na tentativa de solucionar o crime. Melhor não comparar esta nova roupagem com a seqüência de filmes dirigidos por Blake Edwards e estrelados por Peter Sellers.

Ponto final



Enquanto trata da carne, da traição e da conveniência, o filme de Woody Allen não deixa a desejar. Em grande parte, pela tórrida entropia alcançada pela dupla Scarlett Johansson e Jonathan Rhys-Meyers. A cena em que fazem amor no trigal sob a chuva entra, desde já, para a galeria das cenas clássicas de entrega e pecado. Porém, e sempre há um porém, o desenlace deste romance perigoso muda o rumo e o gênero do filme. O drama romântico transforma-se num policial e o filme descamba para o lugar comum. Vira um pastiche, uma versão moderninha de 'Atração Fatal', com desfecho pra lá de exagerado. Pra piorar, de policial, o filme tenta dar uma guinada para a comédia. Como se, para justificar tanta apelação, o diretor precisasse demonstrar que continua espirituoso, complementando tudo com um 'toque genial'. A sensação é que o novo filme de Woody Allen é uma piada de mau gosto. E ponto final.

sábado, março 04, 2006

Johnny e June


O título original do filme de James Mangold é "Walk the Line", canção de Johnny Cash. Andar na linha é algo que o carismático cantor não fez em sua trajetória. Depois de um meteórico início de carreira, enveredou pelo perigoso caminho de misturar álcool e anfetaminas, tornando-se um viciado quase incorrigível. O que o salvou foi, de um lado, o amor à música e, de outro, a paixão por uma mulher. June (interpretada por Reese Witherspoon, favorita ao Oscar de Melhor Atriz) faz amizade com Johnny (Joaquin Phoenix) quando ambos são casados com outras pessoas. Cria-se um laço forte devido aos interesses comuns e aos constantes encontros nas turnês. Baseado na autobiografia do influente cantor, o filme aborda outros aspectos da vida do cantor, como a relação com o pai e a formação de uma geração de novos músicos talentosos - entre eles Jerry Lee Lewis e Elvis Presley.

Crash



Concorre a Oscar de Melhor Roteiro Original o filme de Paul Haggis sobre a intolerância, a discriminação e a violência étnicas em Los Angeles, nos Estados Unidos da América. Bem amarrado e concebido, com certos toques de humor não politicamente correto, liga várias personagens, cujos destinos se entrelaçam numa rede intricada de relações humanas, influenciadas pela etnia de cada pessoa. Caucasianos: o promotor e sua paranóica esposa (Brendan Fraser e Sandra Bullock) e uma dupla de policiais, um experiente e racista (Matt Dillon), outro novato e bem intencionado (Ryan Philippe) ; afro-americanos: uma diretora de plano de saúde (Loretta Devine), um diretor de TV e sua mulher (Terrence Howard e Thandie Newton), um investigador da polícia (Don Cheadle) e dois jovens transgressores da lei (Larenz Tate e Ludacris) ; latinos: uma policial (Jennifer Esposito) e um técnico de fechaduras (Michael Pena), sua mulher e filhinha; persas: uma família proprietária de uma mercearia constantemente vítima de assaltos; um casal de coreanos e um grupo de cambojanos.
A aterradora realidade retratada em Crash lembra-nos que vivemos num mundo desassossegado, onde prima a desconfiança, o desrespeito; onde nada é permanente, tudo é tênue e delicado; onde uma ação impensada acarreta reações imprevisíveis. Um mundo cuja harmonia está prestes a se quebrar em pedaços.